Para dar continuidade a linha de reportagem sobre o meio bucal e seus aspectos, esta edição do Por uma boa causa discute a maior propensão do sexo feminino à comoção de doenças odontológicas. A ebulição hormonal, característica peculiar das mulheres, propicia transformações fisiológicas e comportamentais que permitem uma maior vulnerabilidade.
- Entretanto, estamos falando de estatísticas. Deve-se apontar também que, em termos de acesso a serviços, as mulheres freqüentam mais, logo, geram mais registros que os homens –, afirma Maria do Céu, professora do Setor de Odontologia Social da Faculdade de Odontologia da UFRJ, e continua. “Porém há também a questão etiológica das doenças, e a periodontal, principalmente, merece destaque por ser bastante presente, já que é influenciada pelas mudanças nos hormônios femininos.”
O periodonto, estrutura de suporte do dente, assim como algumas funções do meio bucal, é abalado durante as diversas etapas pelas quais as mulheres passam ao longo da vida. “É de extrema importância entender as fases em que o ciclo hormonal repercute direta ou indiretamente, causando problemas bucais” – ressalta.
Das primeiras variações de hormônio
Na puberdade, durante a etapa de menstruação, há maior suscetibilidade da incidência dos hormônios, que podem comprometer a circulação sanguínea e a geração de doenças ligadas à gengiva. “A gengivite, inflamação com sangramento e vermelhidão, é bastante freqüente nessa fase”, aponta a professora, que indica a idade como um agravante.
- Os jovens são mais resistentes ao cuidado de si e a higiene é essencial para evitar a presença da placa bacteriana, por conseqüência, da cárie e da doença periodontal – ambos problemas relacionados a bactérias.
A professora lembra ainda a existência de uma doença, que é rara, mas também brutal, denominada periodontite juvenil. “É um quadro com microbiota específico, extremamente agressivo, pode causar perda óssea relevante, como de dentes. E é óbvio que as flutuações hormonais fazem com que os efeitos sejam mais fortes.”
Durante os nove meses de espera
A época da gravidez, segundo Maria do Céu, já apresentou maiores índices de doenças odontológicas, especialmente as lesões cariosas e as doenças periodontais. “Após uma forte atuação educativa durante a última década, as gestantes estão mais atentas à sua higienização bucal e muitos tabus são abolidos, como os que diziam que grávidas teriam necessariamente muitas cáries.”
A ocorrência da cárie é explicada, de acordo com a professora, devido à grande expectativa quanto à espera do bebê, o que pode levar a um relaxamento quanto à higiene pessoal; também a alimentação freqüente da mulher resulta no acúmulo de placa bacteriana. Considera-se, então, causas estritamente educativas.
No entanto, a doença periodontal é originada com o descuido na higiene somado aos estímulos dos hormônios. “Ter placa bacteriana acumulada quando gestante, aumenta a severidade do quadro, já que as alterações hormonais desencadeiam maior sangramento e gravidade do caso”, qualifica Maria do Céu. Além disso, pesquisas recentes descobriram que esta doença tem elevada possibilidade de resultar em um parto prematuro, comprometendo a formação da criança.
Um outro aspecto, que acomete 9,6% das grávidas, é o tumor gravídico. Conhecido como granuloma piogênico, esta doença é uma lesão nodular, com alteração e crescimento do tecido, formada nas papilas gengivais (entre os dentes) na arcada superior, que apresenta sangramento abundante. Resulta como sucessão da doença periodontal e, principalmente, por mudanças hormonais.
Com a redução da placa bacteriana presente no meio bucal, o tumor tende a reduzir um pouco e no pós-parto, desaparece completamente, sem ocasionar nem um transtorno maior para a nova mamãe.
O tratamento no Brasil
A ondontologia, em geral, possui o mesmo tratamento para ambos os sexos, mas com alguma atenção para o sexo feminino. De acordo com a professora, a mulher tem mais sensibilidade para procurar muito mais o consultório que os homens, sendo o elo entre o dentista e a sua família.
Desse modo, a partir do entendimento de que a mulher é o agente multiplicador de saúde, os profissionais da área investem nelas com ações educativas, visando estimular a saúde em cada indivíduo.