O uso de computadores pessoais se tornou cada vez mais expressivo nos últimos anos. Segundo resultado divulgado em janeiro a respeito de pesquisa encomendada pela Intel, 31% dos lares brasileiros possuem pelo menos um computador. No entanto, apesar do mercado promissor, a relação homem-máquina, objeto de estudo da ergonomia, apresenta déficits que acabam prejudicando a saúde do usuário.
As condições de trabalho, tais como iluminação, ruído e temperatura, podem influenciar no conforto e saúde do trabalhador. O desconforto provocado por esses fatores e pela posição diante da máquina pode levar a queda da produtividade, problemas de visão, lesões por esforços repetitivos (LER), distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), entre outros.
De acordo com o professor Mario Cesar Vidal, coordenador do Curso de Especialização Superior em Ergonomia (COPPE/UFRJ), a falta de ergonomia gera prejuízos não apenas para o trabalhador, mas para a empresa, que perde com a queda de qualidade no trabalho e na relação custo-benefício.
Desenvolvidos sobretudo a partir da década de 80 com a entrada da Era da Informação, os computadores foram inicialmente criados apenas para processamento de dados e realização de cálculos numéricos. Com o tempo, passaram a ser utilizados em larga escala sem que tivessem sido pensados para esse fim.
A ergonomia, responsável por analisar as condições de trabalho e a relação homem-máquina, é desconhecida por boa parte dos usuários, o que, na opinião do professor Mario Cesar Vidal, contribui para o agravamento das condições inadequadas de trabalho. “Embora algumas empresas já utilizem estudos ergonômicos que têm se comprovado eficazes na resolução dos problemas e retorno financeiro em curto prazo, muitas ainda desconhecem a sua importância.”
As conseqüências para os usuários podem ser físicas, mentais e organizacionais. Cadeira, mesa, vídeo, todas as interfaces utilizadas pelos usuários precisam estar em posições adequadas, de forma a não prejudicar a coluna, membros superiores e inferiores. “O ideal é que os braços fiquem abaixados, próximos à perna, o que não ocorre quando se usa o teclado ou levanta o braço para alcançar a torre do computador.”
As atividades desenvolvidas pelas pessoas, como ler, escrever e usar o computador, ocorrem em alturas diferentes. Segundo informou o professor, o fato de as mesas serem planas não se ajusta às reais necessidades dos usuários e não permite a realização de atividades múltiplas.
No entanto, são as interfaces dos programas que mais afetam as pessoas. “Além da questão física, a elaboração de programas sem uma interface que facilite ao usuário realizar suas tarefas contribui para o seu desgaste emocional e mental. É o que eu chamo de miséria cognitiva, ou seja, a pessoa não tem a menor idéia do que esteja se passando, só sabe que está acontecendo alguma coisa ruim.”
Para o professor, o cuidado com as crianças deve ser redobrado. O ideal é que o tempo que elas passam diante do computador não ultrapasse um terço do seu tempo livre. Os outros dois terços devem ser gastos com atividades físicas e saudáveis. “Não há como adaptar os ambientes de utilização das máquinas para crianças porque elas estão em crescimento contínuo. Então a melhor solução é limitar a exposição.”
Prevenção é o melhor remédio
Para evitar os problemas gerados, o ideal é agir na prevenção. Segundo informou Mario Cesar Vidal, para se ter saúde e conforto diante do computador são necessários três processos: fazer equipamentos sob medida que estejam de acordo com as necessidades dos usuários; desenvolver amplos programas de ergonomia em todas as escolas e realizar estudos sobre o quanto se perde de dinheiro no país pela falta de ergonomia.
O Curso de Especialização Superior em Ergonomia (CESERG/COPPE/UFRJ) prepara os alunos para identificar problemas decorrentes da ausência de ergonomia nos processos de trabalho. Já os trabalhos da linha de pesquisa em ergonomia na COPPE (mestrado e doutorado) têm incentivado seus alunos no desenvolvimento de equipamentos que melhoraram a interação entre o usuário e a interface. Entre eles, um apoiador para os pés e descansador para o braço que pode ser acoplado às mesas já foram criados. “Atualmente nos debruçamos sobre o desenvolvimento de estruturas mais complexas, como assentos industriais que se coadunam com exigências bastante diferentes, o que é uma inovação de classe mundial.”
Hoje em dia, está sendo realizado projeto em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos Ergonômicos (ABIPE) para desenvolver novas idéias ergonômicas que melhorem a vida das pessoas. “Precisamos de equipamentos que atenuem os males causados pela falta de ergonomia. Só assim poderemos evitar os problemas que afetam as pessoas pelo uso extensivo de computadores de maneira incorreta. Os computadores, infelizmente, são um exemplo agudo de ausência de ergonomia em sua concepção”, declarou Mario Vidal.