A musicoterapia é o tema da semana da série Por uma boa causa, que neste mês aborda maneiras de controlar o estresse. O tratamento terapêutico através de ritmo, melodia e harmonia é desenvolvido desde os tempos da Grécia Antiga, com registro nas obras dos filósofos pré-socráticos. Entretanto, somente a partir do pós-guerra, na década de 1940, surgiu a atual musicoterapia como método nos EUA e na Argentina.
No cotidiano, é fácil notar o impacto provocado pelos diversos estímulos sonoros, como a sirene de uma ambulância e o batuque em um tambor. A partir dessa comunicação sonora, que pode ser tranquilizadora ou estressante, o corpo reage de diferentes formas e assim são trabalhados os princípios da musicoterapia.
– Não há uma receita básica. Na musicoterapia não podemos falar em um receituário de audições musicais. Não posso dizer qual música faz bem para você. Certa música pode fazer bem em um momento, mas não em outro. Na verdade, a gente ouve a música que precisa ouvir – afirma Martha Negreiros Sampaio Vianna, graduada em musicoterapia e formada em psicanálise, e que atua na área de musicoterapia aplicada à Psiquiatria da Maternidade-Escola da UFRJ.
Os princípios da terapia através da música não se restringem a combater problemas psicológicos, mas também diversas patologias que envolvem comunicação, desenvolvimento, relacionamento, aprendizagem, expressão, mobilização e organização física, mental ou social, sempre visando melhorar a qualidade de vida.
– Na musicoterapia não há o paciente passivo ou ativo, pois as sessões são interativas. O método mais interessante é aquele que o paciente faz a música – alerta Martha Negreiros.
Tal metódo de terapia ainda busca ser um canalizador e libertador de energia. Assim, o paciente libera seus canais de comunicação de modo que o seu consciente interaja com o emocional a partir da liberação vocal, dos sons e ritmos. Nesse momento, o musicoterapeuta atua de maneira que seu paciente canalize e libere suas emoções, saindo aliviado e com o nível de estresse controlado após a sessão.
– A musicoterapia é indicada para pessoas com graves problemas no modo de comunicação verbal, que é um código social compartilhado. O musicoterapeuta traz um novo valor através da linguagem musical, permitindo que pessoas com problemas psiquiátricos circulem em outro código além do verbal. Muitos não sabem, mas a musicoterapia também é indicada para pacientes com Alzheimer, pois no “HD” cognitivo a memória musical é a última a se apagar. A pessoa não fala coisa com coisa, mas pode cantar em inglês, francês – esclarece a musicoterapeuta.
A musicoterapia na Maternidade-Escola da UFRJ
Martha Negreiros desenvolve, em parceria com o musicoterapeuta Albelino Carvalhães, sessões na Unidade da Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal na Maternidade-Escola da UFRJ. O trabalho é voltado para as mães e seus bebês prematuros internados na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e na Enfermaria Mãe Canguru.
Em um ambiente composto por chocalhos, congas, pandeiros, violões e surdos, ocorrem sessões interativas nas quais os participantes tocam os instrumentos e sugerem as músicas. Nesse trabalho é feita a análise do quadro emocional das mães para auxílio do desenvolvimento psicológico. O tratamento musicoterápico se estende até a alta do bebê da Enfermaria Canguru, que ocorre quando ele ultrapassa dois quilos e apresenta estabilidade clínica.
– Se na menstruação há o desequilíbrio hormonal, na gestação um combustível de hormônios deixa a mulher totalmente desequilibrada, com uma alteração de humor enorme. Há um desequilíbrio que faz parte da gravidez, mas o estresse da mãe não passa para o bebê. Não há como ficar numa bolha esperando 280 dias de uma gestação tranquila. O estresse é do cotidiano – afirma Martha.
A musicoterapeuta explica a importância do trabalho desenvolvido na Maternidade-Escola, tendo em vista o quadro de abalo emocional das mães. “No caso das mães com bebês na UTI, a musicoterapia produz um imenso alívio de ansiedade, porque elas podem se expressar, cantar, rir, chorar, compartilhar com as outras em um momento difícil. No primeiro estágio, a musicoterapia favorece a instalação da função materna, de constituição do sujeito através do banho de linguagem. No segundo, há esse alívio de ansiedade.”
Martha ainda desmistifica o ventre materno como local acolhedor e tranquilo para o desenvolvimento do bebê. “Não há tranquilidade no ventre. O som no corpo da mãe corresponde a um engarrafamento parado. Há uma verdadeira ligação audiofônica. O primeiro sentido que se abre é a audição”, diz.