Raquel Pereira de Azevedo, aluna do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia e Química Medicinal da Faculdade de Farmácia da UFRJ, orientada pela professora-doutora Valéria do Monti Nascimento Cunha, defende, no dia 6 de agosto, a sua dissertação de mestrado “Efeito da Ivermectina no Schistosoma mansoni: Comparação com a Tapsigargina, um Inibidor Específico e Irreversível das Bombas de Ca2+ SERCA”. A defesa acontece às 10h no Auditório de Farmacologia, no bloco J do Centro de Ciências da Saúde (CCS), e visa à obtenção de grau de mestre em Ciências Biológicas (Farmacologia e Química Medicinal).
A esquistossomose mansônica atinge milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo o Brasil. Trata-se de uma helmintose provocada pelo Schistosoma mansoni e sua transmissão ocorre pelo contato do homem com a água fresca contaminada com cercárias. Apesar de o Praziquantel ser amplamente utilizado no tratamento e controle da esquistossomose, em várias regiões do mundo o seu uso vem sendo limitado pelo aparecimento de cepas de vermes resistentes.
Dessa forma, há grande interesse em se pesquisar novas substâncias com potencial terapêutico para o tratamento da doença. Com base em dados da literatura científica, a mestranda investigou a ação da Ivermectina (IVM) – fármaco correntemente usado no tratamento da oncocercose – na motilidade e no comprimento do corpo dos vermes adultos machos, e sua possível relação com a inibição de bombas de Ca2+ sensíveis à tapsigargina (TG) presentes no S. mansoni.
Utilizando o método descrito por Silva e Noel (1995), ela observou que doses crescentes de IVM (3, 30, 60 µM) não alteram a motilidade ou o comprimento do corpo dos vermes adultos machos, ao contrário da TG (0,05, 0,5 e 5 µM), um clássico inibidor das bombas de Ca2+ do tipo SERCA, que é capaz de aumentar a motilidade e diminuir o comprimento do corpo dos vermes. O encurtamento do corpo do verme promovido pela TG não é revertido após lavagem dos vermes com solução nutridora, corroborando para o envolvimento das bombas de Ca2+ presentes nesse parasita.
Por outro lado, a IVM que não altera a motilidade ou o comprimento do corpo dos vermes é capaz de causar a inibição em cerca de 30% da atividade específica de bombas de Ca2+ sensíveis à TG no S. mansoni, bem como reduzir em 40% a captação de Ca2+ para o interior do retículo sarcoplasmático. Raquel constatou ainda que a IVM e a TG, mesmo inibindo a SERCA do S. mansoni, não causam a morte dos vermes, mas promovem o alongamento daqueles parasitos mantidos em meio de cultivo RPMI 1640 durante 10 dias. Na presença de IVM e ATP, agonista exógeno do receptor purinérgico SchP2X, não foi observado efeito adicional na sobrevida desses vermes. O alongamento percebido na presença de IVM e ATP também não foi diferente do efeito observado na presença de IVM sozinha.
A aluna concluiu que tais dados mostram que, nas concentrações utilizadas, os vermes adultos machos são resistentes à IVM e a sua principal ação no S. mansoni é a inibição parcial das bombas de Ca2+ da família SERCA.