Com o passar dos anos, a ciência evoluiu para a manipulação de materiais em níveis cada vez menores. Definidos como as menores partículas que caracterizam um elemento químico, os átomos estão presentes na estrutura de qualquer material. A nanotecnologia, ramo do conhecimento que vem sendo desenvolvido nas últimas décadas, integra áreas como medicina, física e química na pesquisa e construção de novas estruturas a partir dessas partículas. Sua aplicação pode ser observada, por exemplo, na utilização de nanopartículas de prata como bactericida e na possibilidade de prevenir doenças como o câncer de pele através de nanodispositivos que quantificam doses de radiação ultravioleta.
A nanociência começou a ser desenvolvida na década de 60 por Richard Feynman, a partir da idéia de tornar menor aquilo que as pessoas usavam. No entanto, apenas em 1981 foi inventada a ferramenta que tornou possível o desenvolvimento da nanociência com mais intensidade na década de 90: o microscópio de varredura por tunelamento eletrônico. Semelhante ao funcionamento dos antigos discos de vinil, o aparelho consegue atrair elétrons através de uma agulha bem fina e permite a manipulação de átomos. Segundo Pierre Mothé Esteves, coordenador da Escola de Nanociência e Nanotecnologia e professor do Instituto de Química (IQ), “atualmente existem muitas técnicas de manipulação de partículas nano, cujo desenvolvimento surgiu da necessidade humana de colocar mais em menos espaço”.
A importância da nanotecnologia está na criação de um mundo de possibilidades que trazem, na opinião do professor, não apenas a miniaturização, mas efeitos a serem descobertos e que não podem ser obtidos a nível macroscópico. “Dizem que essa pode ser a 4ª Revolução Industrial baseada em materiais e talvez a última”, destacou Pierre Esteves.
A nanociência se apresenta como a tecnologia do futuro. Muitos produtos fabricados com a utilização da nanotecnologia na sua constituição já foram lançados no mercado, como filtros de proteção solar, raquetes, bolas de tênis, tintas e filtros de geladeira.
De acordo com o coordenador da Escola, trabalhar com nanopartículas traz algumas dificuldades, entre elas, a de manter a caracterização e a estabilidade durante os procedimentos. “É preciso controlar de forma eficiente as nanopartículas porque elas tendem a se reagrupar e a perder suas propriedades. Mas esse é um desafio que vem sendo superado, assim como o barateamento de algumas ferramentas necessárias para transferir os materiais para a indústria. Quanto aos aspectos legais e ambientais, muito ainda tem sido discutido a respeito dos riscos que podem ou não ser gerados.”
Estabelecida como uma das prioridades em termos de investimento e pesquisa no país, a nanociência pode trazer vantagens econômicas e solucionar problemas relativos à energia, água e saúde. Sobretudo daqui a 40 anos, quando, segundo estimativas da ONU, a população pode passar dos atuais 6,7 bilhões de habitantes para mais de 9 bilhões.
A Escola
Por meio da experiência de grupos de pesquisa nessa área, a UFRJ realiza entre os dias 2 e 6 de março a 3ª Escola de Nanociência e Nanotecnologia, organizada pelo Instituto de Química, Instituto de Física, COPPE, Instituto de Nutrição, Instituto de Macromoléculas e Escola de Química. Com objetivo de atrair pessoas em processo de formação para trabalharem na área, sobretudo alunos de final da graduação, mestrado e doutorado, a Escola oferece palestras diversificadas, aulas práticas e teóricas sobre “Química Supramolecular”, “Nanomagnetismo”, “Nanotecnologia do Carbono” e “Nanobiotecnologia”.