A compulsão por compras, ou oneomania, é um distúrbio que hoje atinge cerca de 1% da população mundial, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, pesquisas da Universidade de São Paulo (USP) revelam que três em cada cem brasileiros são oneomaníacos, mesma porcentagem avaliada entre os adultos do Reino Unido e três vezes maior que o índice registrado nos EUA, país símbolo do capitalismo. A oneomania consiste no ato de comprar desenfreadamente produtos sem utilidade aparente e é o tema da última edição desse mês do Por uma boa causa.
O hábito é mais comum entre as mulheres, porém pesquisas americanas mais recentes demonstram que o número de compradores compulsivos masculinos vem aumentando consideravelmente, equiparando-se ao do sexo feminino. No entanto, as mulheres são a maioria a procurar ajuda e tratamento psiquiátrico. Segundo Marcelo Cruz, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, essa prevalência do sexo feminino se explica pela forma segundo a qual homens e mulheres buscam a sensação de bem-estar, associada ao nível de serotonina no cérebro. “Homens procuram comportamentos competitivos, arriscados; mulheres procuram as compras, os cuidados estéticos e exageram na alimentação para aumentar a serotonina.”
— A compulsão por compras não é considerada, atualmente, uma doença psiquiátrica, mas pode ocorrer como um sintoma em vários quadros psiquiátricos — diz o especialista que explica ser o distúrbio comum em pessoas com transtorno bipolar do humor e que também pode ocorrer em indivíduos com quadros de ansiedade, depressão e transtornos de personalidade.
O indivíduo com oneomania é aquele que compra excessivamente, sem refletir sobre a necessidade de suas aquisições e sobre seu orçamento pessoal. Geralmente, ele gasta muito mais dinheiro do que pode, contrai dívidas e gera prejuízos para si mesmo e familiares mais próximos. A compulsão por compras é um distúrbio que, se não tratado pode causar graves problemas sociais, financeiros e emocionais. Em casos mais extremos, os oneomaníacos chegam a acumular tantos objetos que perdem os espaços de locomoção dentro de casa. “É uma atividade compulsiva, muitas vezes os indivíduos se arrependem depois e tentam resistir a um novo impulso para comprar, mas não conseguem e voltam às compras excessivamente.”
Mecanismo de compensação
A compulsão pode surgir como um mecanismo de compensação em que o indivíduo compra para se sentir bem, para aliviar uma tristeza, elevar a autoestima ou substituir outro vício. “Já tive um paciente que conseguiu diminuir grandemente o consumo de substâncias psicoativas, mas passou a comprar compulsivamente. Durante meses, ele gastou uma enorme quantia comprando camisas de times de futebol.” Além das situações de estresse e frustação emocional, outras podem despertar o desejo de compra no oneomaníaco, como, por exemplo, a visão de uma propaganda ou um ambiente propício, como shoppings centers.
Marcelo Cruz conta que muitas vezes o compulsivo por compras tende a negar o distúrbio, escondendo os prejuízos financeiros e aquisições de si mesmo e dos demais. “É comum que os familiares percebam antes e alertem, mas mesmo assim o comprador demora a admitir a compulsão”, diz o especialista. Ele conta que, na maioria dos casos, o paciente só procura ajuda quando já perdeu tudo o que tinha.
A demora para perceber e reconhecer que se possui o distúrbio é a maior dificuldade no tratamento, que é feito através de psicoterapia e pode incluir o uso de medicamentos estabilizadores do humor e de controle de aniedade e depressão. Grupos de apoio, como o Devedores Anônimos, também são uma opção para fortalecer o tratamento que se inicia com uma transformação comportamental do paciente que deve aprender a conviver com uma quantidade reduzida de dinheiro.