• Edição 182
  • 30 de julho de 2009

Saúde e Prevenção

Depressão infanto-juvenil: por que ela está cada vez mais frequente?



Larissa Rangel

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que, ao contrário do que muitos pensam, depressão não é doença de adulto. Na última década, segundo a OMS, o índice de depressão infanto-juvenil subiu de 4,5% para 8%. Situações traumáticas, como separação dos pais ou perda de um familiar, aparecem como a causa mais comum para a manifestação da doença. No entanto, a violência urbana e o excesso de atividades são hoje fatores que contribuem para o aumento no número de casos. O grande problema é que, muitas vezes, pais e parentes podem estar diretamente envolvidos e não sabem como agir.

A depressão atinge crianças, adolescentes e adultos, mas apresenta algumas especificidades de acordo com cada faixa etária. Ruth Cohen, professora do Instituto de Psicologia da UFRJ e pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas (Nipiac), explica que o adulto e o adolescente perdem o interesse pelo mundo. Entre as crianças, observa-se a impossibilidade de brincar e interagir com seus pares.

Segundo a professora, os pais devem estar sempre atentos ao dia a dia de seus filhos, procurando observar qualquer mudança de comportamento. Diagnosticar depressão nas crianças e adolescentes costuma ser mais difícil, porque os sintomas podem ser confundidos com pirraça ou birra, mau humor, tristeza e agressividade. Entretanto, o que diferencia a depressão de outros comportamentos rotineiros é a intensidade das mudanças em hábitos normais do paciente.

Os principais sintomas são alteração de humor, problemas com o sono e o apetite, além da perda de interesse pelo cenário que o rodeia. “A dor psíquica pode tomar tal dimensão que não deixa espaço para que algo possa despertar o interesse da criança ou adolescente. O brincar, por exemplo, que é uma grande saída para os conflitos na infância, deixa de existir. Quanto aos adolescentes, eles perdem interesse por atividades em grupo e de lazer. Autorrepressão, ficar em casa, não querer se comunicar, chorar constantemente ou ter apatia também podem ser sinais importantes”, explica Ruth Cohen.

Segundo a professora, a depressão, como qualquer outra doença, se não for tratada, acaba trazendo graves consequências para a vida do indivíduo. Ruth afirma que o desejo fica apagado e a vida deixa de ter sentido, podendo provocar, em alguns casos, tentativas de suicídio.

Tratamento

Estudos na área da Psicanálise mostram que as causas da depressão na infância estão vinculadas às relações estabelecidas pela criança com seus familiares. Como os psicanalistas não avaliam a hereditariedade e a medicalização, é necessário um trabalho conjunto do psicanalista e do psiquiatra, principalmente nos casos de depressão psicótica. No entanto, nenhum tratamento é eficaz se não houver apoio e participação daqueles que estão mais envolvidos com a criança ou o adolescente.

“Não é fácil iniciar o tratamento quando o paciente se encontra em estado de prostração ou profunda melancolia. A família precisa se responsabilizar e acompanhar a criança e o adolescente até que se estabeleça algum vínculo com o psicanalista ou terapeuta”, defende Ruth. Segundo ela, na maioria das vezes, o apoio dos familiares e a psicoterapia são suficientes. A depressão infanto-juvenil, se não for tratada corretamente, pode desencadear outras doenças, tais como anorexia ou bulimia.