Com o intuito de avançar e ampliar as pesquisas e os estudos sobre insetos, o Instituto de Bioquímica Médica vai construir um novo insetário que permitirá a análise de mais uma linhagem do mosquito Aedes aegypti.
Apesar de trabalhar com o vetor do vírus da dengue, a pesquisa não tem foco no estudo da doença. “Nós não trabalhamos com mosquitos só para investigar aspectos relacionados à dengue. Nosso laboratório é de bioquímica de insetos. Então, a gente tenta entender as estratégias que os insetos usam. Particularmente, os insetos que se alimentam de sangue — chamados hematófagos —, para lidar com esse tipo de alimento”, diz Marcos Sorgine, professor do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ.
O sangue possui uma substância chamada hemoglobina, que quando quebrada pelas proteínas no processo de digestão libera um grupamento chamado M. Trata-se de uma molécula pró-oxidante, portanto capaz de gerar radicais livres, moléculas que atacam lipídios e proteínas, gerando uma situação no organismo chamada de estresse oxidativo.
— Esses insetos ingerem algumas vezes o peso deles em sangue quando se alimentam. Essa quantidade de grupamento M que é liberada, e que atinge concentrações altíssimas, deveria matar o inseto; mas não é o que acontece. Então, na verdade, o foco original do nosso grupo é tentar entender quais são as adaptações que os hematófagos têm para conseguir lidar com esse problema. Assim, eventualmente, em longo prazo, pode ser uma forma de atacar as defesas e com isso fazer com que ele morra em função da própria alimentação, por exemplo.
Varias espécies
As pesquisas com o Aedes aegypti cresceram muito na UFRJ, assim o insetário atual já não é mais suficiente para produzir a quantidade de mosquitos necessária aos estudos. Além disso, o instituto quer mais espaço para estudar outras linhagens de mosquitos. Atualmente utiliza-se uma linhagem chamada de Red, por possuir olhos vermelhos, que há muitos anos é mantida em laboratório.
— Para trabalhar especificamente com dengue, essa é uma linhagem muito ruim, pois ela se infecta muito mal. Por outro lado, ela é um bom modelo de laboratório, pois é fácil de crescer e tem uma genética conhecida, coisas que a comunidade internacional leva em consideração para considerar confiáveis os resultados — explica Marcos.
O novo insetário terá mais de uma sala para crescimento dos mosquitos, o que possibilitará estudos com outras espécies, algumas inclusive mais adequadas para realizar infecção, além da Red, que é a linhagem referência.
Não haverá muita circulação de alunos no insetário propriamente dito, mas isso não significa que eles não serão beneficiados pela nova instalação. A “produção” e manutenção dos mosquitos, que é um processo trabalhoso, é responsabilidade de técnicos e os alunos já pegam as gaiolas com os mosquitos em fase adulta para realizar os estudos.
O projeto, já em fase final, está sendo feito em parceria com o Atelier Universitário — projeto de Extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). Além de poupar as despesas de contratação de um projeto também proporciona aos alunos uma experiência prática de planejamento. A construção tem previsão de início em fevereiro ou março e deverá levar em torno de dois meses para ser concluída. “É um projeto pequeno e muito simples, na verdade; temos basicamente duas salas de manipulação, as salas do insetário propriamente dito, onde ficam os mosquitos, e antessalas, que são uma exigência de biossegurança para que não haja possibilidade de fuga dos mosquitos. Além disso, temos também alguns isolamentos internos para evitar que o mosquito de uma sala vá pra outra”, conclui Sorgine.