A produção de um processo inovador desenvolvido pelos pesquisadores do Laboratório de Modelagem, Simulação e Controle de Processos (LMSCP) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) poderá tornar o tratamento de câncer mais barato e acessível à população brasileira. Trata-se de micropartículas poliméricas sintéticas (esferas microscópicas de materiais plásticos) carregadas com medicamentos, cuja função é levar o remédio até o local mais próximo do tumor, interrompendo o fluxo sanguíneo que alimenta os tumores.
De acordo com o professor José Carlos Pinto, a técnica pode ser aplicada principalmente nas doenças da mulher (tumores uterinos e de ovário) e nas doenças do fígado e pâncreas. Nesses casos, os médicos desenvolveram técnicas adequadas para os procedimentos de embolização. Além disso, a técnica pode também ser usada como procedimento pré-operatório, quando a intervenção cirúrgica é inevitável, para minimização dos riscos decorrentes de hemorragias.
O polímero, que mede menos que um grão de sal, funciona como uma rolha (tampão), permitindo que a micropartícula seja injetada no corpo para levar o medicamento até o local mais próximo possível do tumor, proporcionando um combate direto e potencializando o efeito físico da embolização. Diferente do que acontece na quimioterapia tradicional, em que células saudáveis também são afetadas durante o tratamento, ambos os métodos preservam as células saudáveis e, consequentemente, o sistema imunológico do paciente. O processo já está patenteado pela Coppe, em parceria com uma empresa financiadora, a First Line, sendo 100% viável para a produção.
Um dos diferenciais da técnica desenvolvida na Coppe é a inserção do fármaco no polímero, feita em uma única etapa do processo de produção, reduzindo tempo e custo na fabricação. A inovação é fruto da tese de doutorado de Marco Oliveira, aluno do Programa de Engenharia Química, sob a orientação dos professores José Carlos Pinto e Márcio Nele.
Essa aplicação de medicamentos por meio de polímeros vem sendo utilizada com sucesso em vários países, mostrando-se mais eficaz que o tratamento quimioterápico tradicional por atuar diretamente sobre as células cancerígenas, reduzindo a quantidade de medicamentos no organismo e, consequentemente, seus efeitos colaterais. “Nós criamos um novo material para a obstrução intencional de um vaso sanguíneo, mais barato e com melhor eficiência de aplicação”, explica o professor José Carlos Pinto.
Uma parceria entre o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e a Coppe para o desenvolvimento de novas tecnologias no combate ao câncer, firmada em junho deste ano, contribuirá para o aperfeiçoamento do produto.