Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (FAPERJ), o professor Fernando Gomes de Souza Junior e um grupo de pesquisadores do Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano (Ima), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolveram um novo método de remoção de petróleo para áreas contaminadas. A técnica, simples e eficaz, é baseada na produção de um material biodegradável originado da castanha de caju (LCC) e do óleo da mamona. O projeto pretende minimizar os impactos ambientais causados por derramamentos petrolíferos.
A grande vantagem dessa técnica em relação às outras utilizadas é o uso de recursos renováveis na produção de um material de baixo custo e forte cunho ambiental. Com ele, o petróleo pode ser completamente retirado sem que haja riscos de aumento de contaminação no local. “Há também a questão da proteção intelectual, uma vez que transferimos a propriedade desse estudo para a UFRJ, que entrou com o pedido da patente da técnica. A formação de recursos humanos capazes de disseminar a tecnologia também é fundamental para o projeto, uma vez que este é desenvolvido por jovens pesquisadores, entre os quais destaco os mestrandos Jéssica Marins e Magnovaldo Lopes”, frisa Fernando Gomes.
Desde 2005, o professor começou a investigar com a equipe o efeito do líquido da castanha de caju sobre os processamentos de borrachas condutoras. Daí para frente, começaram a pensar em novas formas de utilização do LCC. “Resolvemos substituir os plásticos provenientes de fontes petroquímicas que usávamos por esse de origem renovável. Com isso, conseguimos preparar materiais biodegradáveis. Um estudo mais aprofundado dessa produção revelou que, dependendo do método de síntese, há grande semelhança entre a composição do plástico do LCC com o petróleo. Assim, surgiu a ideia de estudar a capacidade de absorção de petróleo por este material e, desde o primeiro teste, os resultados foram muito animadores”, contou o professor. Tanto o plástico de LCC quanto o petróleo são constituídos por frações aromáticas e alifáticas, surgindo daí a interação entre eles.
Da mesma forma, a glicerina que sobra do biodiesel produzido a partir da mamona também pode ter as mesmas funções de remoção de petróleo. Para isso, basta a introdução de grupos aromáticos em sua composição, e ela adquire um comportamento similar ao do plástico do líquido da castanha de caju.
Partículas magnetizáveis no processo
O material biodegradável é fabricado através de técnicas de polimerização no Laboratório de Biopolímeros e Sensores do Instituto de Macromoléculas (Ima) da UFRJ. No mesmo local, também são realizados os testes de remoção de petróleo. O método é bem simples e baseado na ação de um campo magnético. “Durante a produção do polímero de LCC adicionamos partículas magnetizáveis nessa massa. Isso faz com que todo o plástico possa ser atraído por um imã. Este produto é triturado até a obtenção de um pó, que é lançado sobre o petróleo derramado. Posteriormente, essa mistura de petróleo e pó do polímero de LCC será removida com a aproximação de um imã”, explica Fernando.
A produção no laboratório ainda é pequena, atingindo uma escala de bancada. São retirados de 20 a 50 gramas de petróleo, fornecido pela Petrobras, da água do mar com uso de um imã. O próximo passo é a construção de um tanque para testar remoções de porte maior. As metas para o projeto são animadoras. “Queremos entender melhor a estrutura e morfologia dos polímeros, e o processo físico-químico envolvido na absorção de petróleo por estes materiais. Esse conjunto de conhecimentos permitirá aumentarmos a escala de produção e de teste e, talvez, ajudará até no preparo de novos materiais, com maior capacidade de absorção e de remoção”, finaliza o professor.