A ciência tem ultrapassado muitas fronteiras tecnológicas com rapidez. O que há alguns anos beirava a ficção científica – como cirurgias a laser e computadores portáteis – hoje é realidade. Como era de se esperar, esse conhecimento, conquistado a duras penas, também proporciona qualidade de vida a pessoas com deficiências físicas. Possibilita até, em alguns casos, a recuperação.
O projeto Casa Virtual, criado por Rosa Maria da Costa, doutora em Engenharia de Sistemas de Computação pela UFRJ, e Luiz Alfredo Vidal, pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE/UFRJ), caminha nesse sentido. Através da Casa e de seus ambientes virtuais, médicos podem trabalhar o cérebro e as habilidades motoras do paciente.
A ideia do projeto surgiu quando Vidal presenciou exercícios funcionais feitos com internos do Instituto de Psiquiatria da Universidade em um apartamento comum. Como é caro manter um imóvel para esse tipo de tratamento, o engenheiro resolveu então elaborar um programa de realidade virtual que pudesse recriar o ambiente de uma casa e até mesmo de uma cidade. Nessa época, Rosa, então doutoranda, procurava um tema para sua tese. Vidal apresentou a Casa Virtual. A parceria estava firmada.
Obstáculos
Nem todos, porém, foram favoráveis ao projeto. Vidal conta que, inicialmente, ele e Rosa tiveram muita dificuldade para convencer os Conselhos de Ética dos hospitais psiquiátricos sobre os benefícios da realidade virtual aplicada ao tratamento de lesões cerebrais de diversos tipos.
— Os conselheiros achavam que a Cidade Virtual poderia piorar o estado dos pacientes esquizofrênicos, que vivem num mundo à parte, alienando-os ainda mais — comentou.
A virada aconteceu quando o projeto foi apresentado ao Hospital Psiquiátrico Pedro II. No conselho, havia um esquizofrênico que se dispôs a servir de cobaia para os testes de Rosa e Vidal. Ele gostou do tratamento e o recomendou a outras pessoas com a mesma psicose. A partir de então, os conselhos passaram a ver os pontos positivos do projeto.
Planos
A Cidade Virtual acompanhou a mudança de Rosa para a UERJ e atualmente está no Hospital Universitário Pedro Ernesto. Vidal, contudo, já trabalha na criação de sistemas virtuais que cuidam de outros tipos de problemas, como fobia de altura e Mal de Alzheimer, por exemplo. Há, inclusive, um sistema que trata crianças com TDAHI (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) através da representação de um zoológico, no qual ela deve executar pequenas tarefas.
Para os hiperativos, também está em desenvolvimento um programa que busca identificar crianças com esse transtorno. O objetivo é que as pedagogas de escolas primárias possam utilizá-lo quando perceberem algum aluno mais agitado. Se confirmado o diagnóstico, o paciente seria encaminhado a um médico.
Por enquanto, não há planos de comercialização dos sistemas. Apesar disso, Luiz Alfredo Vidal admite que o mercado pode se interessar por algum dos projetos desenvolvidos. É, talvez, questão de tempo.