• Edição 162
  • 05 de março de 2009

Argumento

Gibi a serviço da divulgação científica

Beatriz da Cruz

Entre ler gibis e estudar Ciências crianças costumam preferir a primeira opção. Mas o que a princípio parece ser ruim pode se tornar um trunfo na sala de aula quando se une o útil ao agradável. É o que acontece com o projeto “Difusão de Ciências entre alunos do ensino fundamental”, do aluno de mestrado Leonardo Rodrigues Cunha, do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ, coordenado pelo professor Mário Alberto Cardoso da Silva Neto.

O trabalho visa, através de uma revista em quadrinhos, levar conhecimento científico acerca da Doença de Chagas a crianças e adolescentes de uma forma mais acessível e agradável. “O objetivo é ser um material de apoio didático, mas que ao mesmo tempo não vai perder o lado do entretenimento”, afirma Leonardo.

O gibi será dividido em duas partes. A primeira aborda os mecanismos básicos de alimentação e olfação do barbeiro através do personagem Dom Barberini. “Mostramos como ele nos nota no ambiente e se aproxima do alimento, no caso o sangue, e mostramos algumas particularidades, como os componentes da saliva que auxiliam na alimentação. Então são conceitos bastante complexos, mas que quando lidos em uma revistinha, desenhada, pintada, de forma lúdica, ficam muito mais atraentes”, explica o mestrando.

A segunda parte mostra diversos cientistas famosos falando sobre seus trabalhos, já que, de acordo com a pesquisa de Leonardo, as crianças têm uma visão muito caricatural dos cientistas. “Observamos que a visão era estereotipada: homem velho, branco, com traços de loucura. Eles não têm conhecimento da quantidade de cientistas e de informações que estão sendo produzidas todos os dias. É uma forma de mostrarmos que existem cientistas dos tipos mais variados: homens, mulheres, negros, brancos, jovens, velhos e que eles podem ser pessoas normais e mesmo assim trabalhar com Ciência.”

O projeto conta também com a participação de Cecilia Cudschevitch, aluna de iniciação científica, Alan Brito, Felipe Gazos Lopes e Gustavo Bartolomeu. O último é aluno da Escola de Belas Artes (EBA) e fez a parte gráfica da revista com base nos conhecimentos teóricos passados pela equipe do laboratório de Sinalização Celular.

- O trabalho começou por causa de um levantamento que eu fiz na minha monografia, indo a escolas e apresentando um questionário para avaliar o conhecimento das pessoas acerca de doenças. Tenho gráficos significativos que mostram que a forma como esse assunto está sendo abordado não está despertando muito interesse – afirma Leonardo.

Segundo ele, essa é a justificativa para tentar usar uma metodologia diferente. Afinal, a Ciência está sendo gerada o tempo inteiro e muita informação fica de forma geral voltada para a comunidade científica, sem chegar à população.

A primeira a receber o material deve ser a Escola Municipal Anísio Teixeira, com a qual já se desenvolve um trabalho com outro projeto, o Transplantando, no qual o laboratório da escola foi modificado para alterar as aulas de Ciências. Será levado, além da revistinha, um vídeo baseado nela, que também já está sendo produzido e será um pouco mais voltado para o ensino médio.

A revistinha começou a ser desenhada no ano passado e deve ser concluída no final deste mês. O lançamento está previsto para ser feito no congresso sobre Doença de Chagas da SBPz (Sociedade Brasileira de Protozoologia), marcado para agosto. A revista tem o apoio da Faperj e vai ser distribuída gratuitamente aos alunos do ensino fundamental das escolas públicas do Rio de Janeiro. “O meu trabalho tem como proposta trazer um material mais atraente para que o aluno vivencie mais e passe a gostar e querer gerar conhecimento”, conclui Leonardo.