Nesta segunda-feira, 14 de setembro, teve início a III Semana de Pós-graduação de Bioquímica Médica, organizada por alunos da pós-graduação do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ, no Centro de Ciências da Saúde, na Cidade Universitária. Após a inauguração dos minicursos pela manhã, à tarde, no Auditório Rodolpho Paulo Rocco (Quinhentão), os 100 anos da descoberta da Doença de Chagas foi o tema das conferências. O doutor Elói Garcia, endocrinologista de insetos da Fundação Oswaldo Cruz, ministrou a conferência “Explorando as dinâmicas do Trypanossoma Cruzi — Rhodnius prolixus, fatores de interação no intestino do inseto”.
A Doença de Chagas, descoberta pelo médico brasileiro Carlos Chagas, é uma endemia epidemiológica presente em 2.700 municípios brasileiros. Estima-se que 28 milhões de pessoas estejam contaminadas em 18 países das Américas. Ela é causada pelo parasita Trypanossoma Cruzi, que se hospeda e desenvolve no tubo digestivo do inseto Rhodnius prolixus, conhecido como barbeiro.
O homem é infectado pelo contato com a urina e as fezes do inseto. A doença tem pouca possibilidade de cura quando atinge sua fase crônica. Ela causa arritmia, enfraquece o coração, ataca o esôfago, complica a evacuação e atinge o sistema nervoso, o que faz com que a vítima sinta calor e estresse contínuo.
Na conferência, que contou com versão para surdos, o doutor Elói afirmou que as condições do intestino do barbeiro não são ideais para o desenvolvimento do parasita e destacou a complexidade da interação entre o Trypanossoma cruzi e o barbeiro, que estuda há 25 anos.
— A interação do tripanossoma cruzi e do barbeiro depende muito do tipo que está sendo trabalhado. Já se sabe que os barbeiros de Porto Alegre não são infectados com a cepa do Nordeste; ao contrário, a cepa desaparece. E vice-versa — constatou o pesquisador.
Um fator essencial para o desenvolvimento do parasita é a sua adesão à membrana perimicrovilar do tubo digestivo do inseto. “O barbeiro tem uma membrana diferenciada, quando filmamos o parasita no tubo digestivo vemos o parasita com o flagelo indo diretamente a essa membrana. O parasita gruda. Ele consegue se dividir, sobreviver e aumentar a sua população no tubo digestivo”, afirma Elói Garcia.
O endocrinologista de insetos revelou que “quando se inibe a secreção de hormônios cerebrais, por azadiracitina, os parasitas não conseguem se desenvolver de maneira normal”. Indicando que a via do hormônio protoracicotrópico, hormônio estimulador da síntese de ecdisona, está envolvida no processo de desenvolvimento do T. cruzi em seu inseto vetor.
— Se fizermos transplante de cabeça, originada de um bicho tratado, desaparece a infecção pelo parasita. Mas se a gente os decapita e coloca o cérebro ativo a infecção continua. Mostrando que a cabeça é importante — conclui o doutor.