Morar num país tropical como o Brasil requer cuidados constantes com a pele, especialmente no verão quando a incidência de raios solares é ainda maior. Para proteger o organismo contra a radiação ultravioleta especialistas recomendam o uso de filtros solares, essenciais na prevenção de queimaduras, câncer de pele e envelhecimento precoce. Dessa forma, pensando em desenvolver um sistema de maior ação protetora, há cerca de dez anos, a professora Sheila Garcia, da Faculdade de Farmácia da UFRJ, pesquisa novas formulações de filtros solares que possam ser mais eficazes.
— Esse trabalho começou com a minha tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP), de 1993 a 1998; a parte experimental foi realizada na UFRJ com orientação da professora Elisabete dos Santos. Depois, passei a orientar alunos pesquisando sobre o assunto. O objetivo desse estudo é aproveitar filtros solares já registrados e modificar sua fórmula de modo a produzir formulações que permaneçam mais tempo na pele e tenham fator de proteção maior — explica Sheila que é professora do Laboratório de Controle da Qualidade de Fármacos e Medicamentos da UFRJ.
Além dos sistemas naturais de proteção contra os raios ultravioletas (suor, melanina e camada córnea), os filtros solares desempenham papel fundamental ao minimizar os danos causados à pele pelo sol. No entanto, um bom protetor deve apresentar características como: resistência à água e à transpiração; grande capacidade de penetração e fixação na epiderme (estrato córneo); ser estável à luz, ao ar, à umidade e ao calor; não causar sensibilização da pele à luz; e conseguir absorver ou refletir as radiações nocivas.
Sistemas lipossomais
Sheila Garcia aponta que um dos trabalhos mais recentes sobre filtros solares envolveu testes com um sistema diferenciado de gel. O estudo apresentado pelos mestrandos Vinícius Machado Santos e Bianca Gonzalez, sob a orientação da professora do Laboratório de Controle da Qualidade de Fármacos e Medicamentos, empregou lipossomas, isto é, estruturas microscópicas compostas por uma ou mais bicamadas lipídicas de forma a reter o filtro solar em suas membranas.
— Os lipossomas são compostos por fosfolipídios que, em contato com a água, formam uma bicamada, onde o material é então aprisionado. Os fosfolipídios que usamos são extraídos da soja e o que fazemos é tentar incluir maior quantidade de filtro nessa membrana para que a substância possa ficar retida por mais tempo na pele — revela a pesquisadora.
Sheila destaca ainda que o uso de preparações lipossomais reduz a absorção sistêmica dos filtros solares. Além disso, evita o uso de compostos que possam ser eliminados, por exemplo, no leite materno, como a benzofenona, uma das principais substâncias químicas empregadas em protetores. Segundo a professora, a próxima etapa da pesquisa são os ensaios in vitro para avaliar a eficácia das formulações no estrato córneo, a camada superior da epiderme.