O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma doença de início súbito, caracterizada pela perda rápida de função neurológica decorrente do entupimento ou rompimento de vasos sanguíneos cerebrais. Os AVCs podem ser classificados em hemorrágicos ou isquêmicos, dependendo das características que apresentem.
Segundo Carla Drummond, professora de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, os AVCs hemorrágicos, com extravasamento de sangue, podem ter manifestações agudas diferentes, e isso dependerá do local e da extensão da lesão. Entre outras sequelas podem ocorrer a perda da fala ou da consciência e, em outros casos, a perda ou alteração da movimentação ou da sensibilidade. Sua principal causa é a hipertensão arterial. Os AVCs isquêmicos, caracterizados pela interrupção do fluxo sanguíneo e da oxigenação para determinada região do cérebro, têm como fator causal a embolia cardíaca, trombose venosa, aterosclerose e dissecção arterial. Eles podem causar confusão mental, dor de cabeça intensa, fraqueza, tontura ou paralisia de um lado do corpo.
Somente um médico pode fazer o diagnóstico correto do tipo de AVC, descartando outros quadros parecidos que poderiam ser confundidos com o acidente vascular cerebral. Devem ser feitos exames clínicos e de neuroimagem.
Comprometimento da fala
Para Cláudia Drummond, “a alteração da linguagem depois de um AVC (afasia) depende de muitos fatores, especialmente do tipo, extensão e local da lesão neurológica”. A fonoaudióloga explica que pode haver comprometimento para a produção da fala, problemas para a compreensão da linguagem e também a fixação de determinados padrões de fala, acarretando nos pacientes a repetição de uma mesma expressão. Pode haver também o não-reconhecimento da fala do outro, dificuldades para entender o sentido figurado e a não-identificação do significado de palavras ou nomes expressados. Sempre que ocorre a alteração da compreensão há ainda algum tipo de comprometimento na fala; porém, pode ocorrer dificuldade de expressão sem comprometimento da compreensão.
É possível uma total recuperação da fala
Cláudia afirma que a total recuperação da fala é possível em alguns casos, mas não é o comum. “A literatura aponta que mais de 70% dos pacientes não voltam a realizar as mesmas atividades que antes. O que vemos na prática clínica do ambulatório de afasia da UFRJ é que mais de 95% dos pacientes não recuperam totalmente o padrão de linguagem anterior e também não retomam atividade prévia, embora possam se organizar, ter um novo trabalho e conseguir uma boa recuperação da fala.”
É importante ressaltar, recomenda a especialista, que os pacientes afásicos devem iniciar o tratamento o mais rápido possível. “O acompanhamento fonoaudiológico e neuropsicológico deve começar assim que o paciente tiver condições clínicas seguras para o atendimento.”
Segundo Cláudia, o ideal é que o paciente em fase inicial tenha oito horas de terapia fonoaudiológica por semana. “É importante o foco nos três primeiros meses porque é sabido que nesse período existe uma recuperação neurológica espontânea, em que o paciente apresenta grandes melhoras”, diz. A participação e orientação familiar também se mostram fundamentais para a recuperação das funções de fala e linguagem nos pacientes.
Fatores de risco
Para se combater o AVC é importante conhecer os fatores que podem contribuir para o acontecimento de um acidente vascular cerebral. O tabagismo, a hipertensão arterial, o uso abusivo de drogas e álcool, o sedentarismo, diabetes e problemas cardíacos precisam ser levados em consideração quando se analisa o risco de um AVC. Existem também fatores de predisposição ou constituição individual. Os homens são mais propensos que as mulheres a ter AVCs. Nas pessoas mais velhas o AVC é mais comum que nos mais jovens, e não se pode esquecer o histórico familiar. Cláudia ressalta que a interação de um ou mais desses fatores é muito comum e aumenta as chances do AVC.
Como diagnosticar um possível AVC
Segundo a professora, existem alguns critérios que podem ser utilizados pelo leigo para a identificação de um possível AVC. São três as funções a serem observadas: pedir ao paciente para sorrir (verificar se há alteração em um dos lados do rosto); para levantar os braços (observar se um deles tende a cair); conversar com o paciente (analisar se há mudança no padrão da fala, como confusão ou erros de pronúncia, por exemplo).
“A melhor medida é não minimizar os sintomas nem esperar, e sim procurar de imediato um hospital ou, se puder, um centro especializado em AVC”, conclui Cláudia Drummond.