Para dar prosseguimento à série de reportagens sobre verminoses (doenças causadas por vermes, nome popular para “helmintos”), o Por uma Boa Causa desta semana aborda o espargano, larva responsável por causar tanto a esparganose quanto a difilobotriose. Ele é um estágio evolutivo de um helminto da classe Cestoda denominado Diphyllobothrium latum (também conhecido como tênia do peixe).
Esparganose
De acordo com Aleksandra Menezes de Oliveira, professora do Laboratório de Biologia de Helmintos Otto Wucherer do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, a esparganose se desenvolve a partir da ingestão de um crustáceo (que é o primeiro hospedeiro intermediário do parasita) contendo um tipo larvar chamado de procercoide. Nesse caso, a larva permanece em forma de cisto no tecido subcutâneo, nos gânglios linfáticos e nos órgãos viscerais.
O diagnóstico da doença, cuja patologia associada depende dos órgãos envolvidos, do tamanho e do número de esparganos, é feito através de um exame de imagem.
— Infecções consistindo em poucos esparganos na musculatura profunda podem não provocar maiores sintomas. Porém, infecções nos olhos podem causar cegueira e, nos tecidos subdérmicos, resultam em caroços que podem causar um falso diagnóstico de câncer — alerta Aleksandra.
Para evitar o engano, a recomendação da especialista é de que o clínico responsável se preocupe em fazer uma pesquisa detalhada acerca dos hábitos alimentares do paciente. Uma vez feito o diagnóstico, o tratamento a ser realizado é a cirurgia.
Difilobotriose
Com relação à doença denominada difilobotriose, a contaminação ocorre através do consumo de peixe cru ou mal cozido contendo os esparganos. Depois de ingerido, o verme se aloja no jejuno (pedaço do intestino delgado entre o duodeno e o íleo) e pode atingir de três a 15 metros de comprimento (sendo assim o maior cestódeo que pode parasitar o homem).
— Entre as manifestações clínicas, podem ocorrer dor epigástrica, dor de fome, anorexia, náuseas, vômitos, astenia (fraqueza, cansaço), perda de peso e eosinofilia. Uma complicação peculiar dessa helmintose é a anemia perniciosa (anemia hipercrômica macrocítica), pois o parasita adulto tem a capacidade de absorver intensamente a vitamina B12 no intestino do hospedeiro. Contudo, a infecção pode ser assintomática — explica a especialista.
Aleksandra esclarece que o diagnóstico da difilobotriose consiste na observação das fezes do paciente para identificar os ovos do verme. Segundo a professora, a prevenção deve ser feita através do cozimento adequado dos peixes, do cuidado ao dar destino higiênico aos dejetos humanos, da inspeção do pescado e do congelamento adequado dos peixes nos frigoríficos. Por ser às vezes assintomática, a doença pode ser mais facilmente disseminada caso não haja bom saneamento básico.