A depressão é um distúrbio mental relacionado ao humor. Qualquer um está sujeito a ter. Dentre as causas, algumas biológicas, as pressões externas, sociais, estão entre as principais. Um dado preocupante, no entanto, é o alto crescimento de diagnósticos de depressão em crianças e adolescentes. O índice de depressão infanto-juvenil, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cresceu de 4,5% para 8% na última década na faixa etária entre 6 e 16 anos.
Segundo Luciana Gageiro, pesquisadora-colaboradora do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercambio para a Infância e Adolescência Contemporâneas (Nipiac), da UFRJ, "a depressão é um sintoma que tem predominado não só na clínica de crianças e de adolescentes, mas também na clínica de adultos. Podemos entender esse sintoma, de certa forma, como uma resposta às avessas aos imperativos atuais de prazer e felicidade permanente alimentados pela nossa sociedade de consumo, que não deixa brechas para que se possa hoje viver a tristeza, o luto, a fragilidade, que fazem parte da vida. É como se nossa cultura não nos oferecesse um repertório simbólico que pudesse abarcar essas situações, ao evidenciar somente o sucesso, a beleza, a força".
O que caracteriza a depressão infanto-juvenil é a permanência de sintomas, como irritação e tristeza, que acabam alterando o processo social da criança ou adolescente. Além disso, há possibilidades de desenvolvimento de distúrbios bipolares em que fases de depressão se alternam com fases de manias contendo sintomas como euforia, agitação e comportamentos de risco. Enquanto crianças, o risco de desenvolvimento de um quadro de depressão é o mesmo para os dois sexos, mas, depois da puberdade, o risco se torna duas vezes maior no sexo feminino.
O excesso de atividades impostas a crianças e adolescentes, juntamente com a preocupação com a violência urbana e a falta de momentos de lazer causada por esses dois são algumas das principais causas da formação do quadro depressivo. A pressão colocada pela mídia, escola e até pelos pais para manter o nível do discurso da sociedade atual tira da criança a oportunidade de crescer e desenvolver suas próprias escolhas e interesses.
"As crianças e os adolescentes são afetados por isso tanto através das mensagens veiculadas pela mídia quanto pelo discurso competitivo presente em algumas escolas já desde a educação infantil e principalmente pela forma como os próprios pais se relacionam com eles. O que ocorre é que muitos pais, imersos na lógica da velocidade e eficácia máxima, saturam as crianças e os adolescentes de atividades em sua rotina, impedindo que eles próprios busquem formas criativas e espontâneas, ativas, de interagir socialmente", disse Luciana.
A estrutura familiar e social da criança ou adolescente pode ajudar no tratamento do distúrbio, se desfazendo de preconceitos e tomando conhecimento do problema e dos tipos de tratamentos que podem ser feitos de acordo com o grau de depressão. O tratamento terapêutico tem sido o mais recomendado nos casos infanto-juvenis.
A pesquisadora diz também que o tratamento com antidepressivos pode não ser o mais recomendado em certos casos. Como muitas vezes um simples caso de angústia ou tristeza passageira acaba sendo classificado como depressão, o uso mais cauteloso dos remédios seria necessário. “Não é o caso de condenar o uso dos antidepressivos, mas de pensar sobre seu uso de forma mais cuidadosa, ainda mais no caso de crianças e adolescentes, já que esses medicamentos não podem substituir o trabalho de elaboração subjetiva das dificuldades e crises por que passamos, necessário à constituição do psiquismo", completou.