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Edição 207
04 de março de 2010

Saúde e Prevenção

Verão 40 graus

Cardiologista analisa impacto das altas temperaturas e orienta população

Thiago Etchatz

O cardiologista Nelson de Souza e Silva dá dicas para população lidar com o verão mais quente da década.

O ano de 2010 começou quente. As temperaturas mais amenas da última semana aliviaram a população de todo o país, que há dois meses sofria diariamente com temperaturas acima dos 30ºC e sensação térmica ainda superior. As altas temperaturas – reflexo das alterações climáticas em escala global – estão diretamente relacionadas ao desequilíbrio do funcionamento do corpo humano, sobrecarregando o funcionamento do coração e levando à perda de líquidos e sais minerais na busca pelo equilíbrio térmico. Para orientar a população, o Olhar Vital consultou o cardiologista Nelson Albuquerque de Souza e Silva, professor titular do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFRJ. 

O forte calor do verão carioca foi agravado pelo fenômeno climático El Niño, que dissipou as frentes frias da região sul, ocasionando a escassez de chuvas no Rio de Janeiro. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), das dez maiores temperaturas registradas no Brasil no ano, oito assolaram os cariocas, que no dia 23 de fevereiro derreteram aos 41,2ºC. As crianças e os idosos são as principais vítimas. 

“O nosso corpo é mantido a uma temperatura em torno de 36,5o C. Os nossos processos metabólicos geram calor. Para manter a temperatura nos níveis adequados, o calor gerado é dissipado pela nossa pele através dos pequenos vasos sanguíneos que a irrigam e pelo suor. A quantidade de sangue que irriga a pele é controlada pelo cérebro, que possui um mecanismo que sensibiliza as variações de temperatura e controla a quantidade de sangue que circula nos pequenos vasos, dilatando-os e produzindo maior bombeamento de sangue pelo coração”, explica o dr. Nelson.  

Esse processo implica o aumento da frequência cardíaca e a perda de líquidos e sais minerais. “Se esta perda não for reposta com a ingestão de líquidos, o coração não conseguirá aumentar o bombeamento de sangue”, afirma. Assim, idosos e aqueles que possuem o organismo debilitado em razão de doenças cardíacas ou mesmo hipertensão e diabetes têm dificuldade em se adaptar às elevações de temperatura.     

O cardiologista alerta que se o ambiente está muito quente, acima dos 30oC, a dissipação de calor do corpo fica prejudicada e a umidade dificulta a eliminação do calor. A perda de líquidos e sais provoca sintomas como fraqueza progressiva, câimbras, edema de pernas, desmaios, temperatura corporal elevada, dificuldade para realizar tarefas que exijam concentração de pensamento e quadros mais graves, como choque térmico e até a morte. 

Crianças e idosos 

O fato de crianças e idosos serem as principais vítimas do forte calor em grande parte se deve à desidratação. “O mecanismo de sentir sede nos idosos não funciona adequadamente; logo, são mais suscetíveis a apresentarem problemas com as altas temperaturas. As crianças também são mais suscetíveis à desidratação. As crianças e os idosos por vezes não são capazes – por doenças ou dificuldade de locomoção ou comunicação – de ter acesso a líquidos”, avalia o professor. 

Malefícios da prática esportiva sob intenso calor 

Em fevereiro, o Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio Grande do Sul moveu uma ação na justiça gaúcha para impedir a realização de jogos de futebol entre 10h e 18h, horário de maior radiação solar. Para o dr. Nelson, “a ação do sindicato está correta. O exercício físico, pela atividade muscular, gera mais calor. Se o ambiente está muito quente, os mecanismos de manutenção da temperatura corporal terão maior dificuldade de atuação. Deste modo, o atleta fica vulnerável a apresentar os sintomas já mencionados, incluindo arritmias cardíacas, que levam à morte”. 

Dicas para lidar com as altas temperaturas 

Por fim, Nelson Albuquerque deixa as seguintes dicas para amenizar o impacto do calor no fim deste verão:  

– Ingerir líquidos, mesmo sem sede. Com temperaturas ambientais acima de 30ºC há necessidade de ingerir cerca de 3 litros de líquidos por dia. Beber líquidos não significa apenas água, mas sucos de frutas, entre outros.  

– Deve-se evitar cafeína ou outras bebidas que a contêm, pois ela é um estimulante cardíaco, o que não é conveniente em altas temperaturas. 

– Usar guarda-sol ou chapéus de abas largas (tipo sombreiro) para se proteger dos raios solares. 

– Ventiladores nos ambientes podem não ser suficientes quando está muito quente e úmido. Banhos frequentes auxiliam a dissipar o calor. 

– Se na rua, entrar em ambientes refrigerados (shoppings centers) por mais de 20 minutos antes de retornar à exposição ao calor. 

– Os alimentos mais adequados são frutas e legumes. Reduzir o consumo de alimentos gordurosos.

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