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Edição 263
09 de junho de 2011
Enquanto as autoridades alemãs anunciam, aliviadas, o decréscimo no número de contaminados pela cepa fatal da bactéria Escherichia coli, outros milhões de microorganismos estão à espreita pelo globo prontos para fazer mais vítimas. É como interpreta o professor Marco Antônio Lemos Miguel, do Laboratório de Microbiologia de Alimentos do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG/UFRJ), esclarecendo que cabe apenas a cada um de nós adotar medidas simples para evitar que o pior aconteça.
Sobre a possibilidade de a bactéria letal chegar ao Brasil, ele foi claro: “nada impede a E. coli de já estar aqui. Muitos desses patógenos são difundidos mundialmente, só que cabe a nós romper o ciclo de contaminação”. Segundo ele, a partir do momento que uma pessoa viaja para a Europa e entra em contato com a bactéria, pode regressar ao Brasil e contaminar outras pessoas. “A Escherichia coli só existe naturalmente no trato intestinal. É o habitat dela. A contaminação se dá quando alguém, ou qualquer animal, infectado excreta e espalha a doença. As fezes podem entrar em contato com alimentos ou com cursos de água, ou ficar resíduos nas mãos do infectado que toca diversos objetos. É desta forma que a bactéria se propaga no ambiente”, descreveu o professor.
Para Marco Antônio Miguel, as autoridades brasileiras devem orientar os passageiros de voos procedentes dos países onde há o surto sobre que medidas devem adotar no Brasil para evitar que a doença se espalhe. “As pessoas que estiveram lá, estejam elas doentes ou não, devem tomar alguns cuidados como lavar sempre as mãos após ir ao banheiro e fazer uso de sanitários conectados a uma rede de esgoto que tende a eliminar a bactéria ao longo do tempo. É óbvio também que alimentos não devem ingressar no país, o que já é proibido, mas autoridades também devem ficar de olho em quem apresenta qualquer sintoma característico do surto”, explicou.
O tempo de incubação da E. Coli varia de dois a três meses, com período médio de 15 dias. É difícil, segundo Miguel, controlar as pessoas que estiveram em contato com a bactéria por lá, o melhor mesmo é educá-las. Para quem está a caminho da Europa neste período, a recomendação do professor é consumir alimentos industrializados, cozidos, fritos ou assados ainda quentes, e evitar de qualquer forma os alimentos crus, principalmente em saladas. “Eu, como microbiologista em férias, me preocupo muito mais quando estou fora do Brasil. Procuro ingerir sempre água mineral e evitar ao máximo os alimentos crus”, afirma.
E por falar em alimentos crus, o professor lembra que a mudança de hábitos alimentares nos últimos anos, quando as pessoas deixaram de consumir frituras devido aos riscos cardiovasculares e adotaram uma dieta de alimentos in natura abriu as portas para inúmeras bactérias parecidas com a E. coli. “Nós estaremos expostos ao problema, que existirá sempre, e de vez em quando vamos esbarrar com ele. A melhor maneira de acabar com as doenças de origem alimentar é quebrando a corrente, não deixando o microorganismo chegar ao alimento e não permitindo que ele entre no ambiente. Essa é a batalha da indústria alimentícia”, afirma.