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Edição 237
14 de outubro de 2010

Argumento

Estudo de enzimas pode ajudar no controle de infecções por fungos e protozoários

Cília Monteiro

Cientistas ao redor do mundo procuram entender os processos de infecção que causam as mais variadas doenças, para que possam elaborar os tratamentos adequados. É o que faz o professor José Roberto Meyer Fernandes, do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ, que realiza pesquisas com protozoários parasitas e fungos patogênicos. Ele estuda ecto-enzimas, tipos de enzimas que são as primeiras moléculas dos organismos invasores a entrarem em contato com o hospedeiro. Recentemente, o professor analisou essas estruturas nos fungos Candida albicans e Candida parapsllosis, o que lhe rendeu duas publicações em periódicos internacionais.

As enzimas são, em sua maioria, biomoléculas proteicas que aceleram reações químicas dentro das células. Segundo José Roberto, ecto-enzimas são enzimas que expõem seus sítios catalíticos (locais onde ocorrem as reações químicas) para fora da célula de um organismo unicelular ou um tecido. O estudo de Candida albicans, fungos que podem causar infecções orais e vaginais, foi focado em um tipo de ecto-enzima, a ecto-fosfatase. "Nós temos trabalhado com a caracterização destas enzimas com os patógenos vivos, íntegros, nas condições de infecção", conta o professor.

Ele constatou que a Candida albicans isolada, quando obtida de pacientes HIV positivo, apresenta maior atividade da ecto-fosfatase. "Assim, o tratamento destes fungos com inibidores específicos desta enzima é eficaz contra a infecção", concluiu ele. O trabalho foi divulgado na Oral Diseases (link: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1601-0825.2009.01644.x/full).

O grupo do professor também estudou outra ecto-enzima, a ecto-ATPase, em um fungo patogênico, a Candida parapsllosis, que acomete indivíduos imunocomprometidos, principalmente os infectados pelo HIV. A pesquisa originou um artigo publicado recentemente no FEMS Yeast Research, cujos resultados mostram que inibidores para essa enzima reduzem drasticamente a infecção de células epiteilais pela Candida parapsllosis. (link para o trabalho: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1567-1364.2010.00641.x/abstract).

O professor e seu grupo de alunos de doutorado, mestrado e iniciação científica propõem, desde 2001, que as ecto-enzimas são mecanismos que permitem a invasão do hospedeiro. Esta descoberta tem sido comprovada por outros pesquisadores em diversos países e já é assunto de várias revisões publicadas. "No caso das ecto-ATPases, nós temos evidências tanto em fungos, quanto em protozoários como a Leishmania, de que existe a participação delas no processo de resistência a drogas", revela o cientista.

Em um artigo publicado na Experimental Parasitology, em 2006, por exemplo, ele mostrou que a Leishmania amazonensis (agente causador da Leishmaniose cutânea) com maior atividade ecto-ATPásica infecta muito mais a célula hospedeira do que aqueles com menos atividade nesse sentido. O trabalho ainda apontou que o bloqueio desta enzima com anticorpos específicos diminui a infecção de macrófagos (células de grandes dimensões do tecido conjuntivo). (link para a publicação: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16603157

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