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Edição 238
20 de outubro de 2010
Duas pesquisas divulgadas recentemente nos Estados Unidos, uma na Universidade da Carolina do Norte e outra na de Pittsburgh trazem boa notícia e estímulo para mães que pensam se vão ou não amamentar seus filhos. As pesquisas comprovaram que a amamentação protege contra o câncer de mama e diminui os riscos em até 10% de doenças cardíacas, número que parece baixo, mas que é extremamente significativo.
O professor José Leonídeo Pereira, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFRJ esclarece que desde a década de noventa, inúmeros trabalhos nacionais e internacionais vêm mostrando essa associação. O especialista diz que, dentre nós, vale a pena citar um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e da Fundação Osvaldo Cruz, que divulgou pesquisa em 2001 que já falava do assunto. “Eles estudaram mulheres indígenas, comprovaram a inexistência de câncer de mama e associaram ao fato de terem a primeira menstruação aos 12 para 13 anos, terem três filhos ou mais, amamentarem por longos períodos, que podem chegar a até sete anos e entrarem na menopausa em torno dos 48 anos” , diz o professor.
O especialista explica o princípio dessas pesquisas e afirma que vários estudos apontam para o estímulo da divisão celular das células mamárias. A amamentação exercita ciclos ovulatórios ao longo da vida reprodutiva da mulher e favorece o aparecimento de células mal-formadas, suscetíveis à ação de substâncias carcinogênicas. ”Quando se aumenta o número de ciclos durante a vida reprodutora, aumenta-se a exposição ao hormônio feminino estrogênio, que é potencializada pela progesterona durante a segunda fase do ciclo, o que leva a um estímulo de aumento na divisão celular das células da mama. Dessa forma a amamentação por um período longo é um dos fatores protetores na prevenção do câncer de mama”, afirma o médico.
Um fator interessante nessas descobertas é que elas podem servir de estímulo para mães que estão na dúvida se vão ou não amamentar seus bebês, pois, em breve, a amamentação será vista como fator de proteção não só para os bebês, mas também para as mães. Doutor Leonídeo vai além em sua afirmação, ele diz que a conscientização do aleitamento como fator de proteção para a mãe, principalmente no que se refere ao câncer de mama, deve fazer parte de uma política de estado na sua prevenção.
A pesquisa da universidade de Pittsburgh atribui a diminuição do risco de sofrer doenças cardíacas, derrames, diabetes e colesterol alto à diminuição dos depósitos de gordura no corpo, que acontece durante o aleitamento e à liberação de hormônios estimulada pela amamentação. Leonídeo concorda e acrescenta que “o ato de amamentar diminui os níveis de colesterol total, colesterol LDL (mau colesterol) e triglicerídeos, enquanto os níveis de HDL(bom colesterol) se mantêm elevados, bem como existe a melhora do metabolismo dos carboidratos.”
Esta segunda pesquisa foi feita com 140 mil mulheres já no período pós-menopausa, período em que apresentam risco aumentado para o câncer de mama, mas o especialista esclarece que mesmo nestas mulheres os riscos diminuem se houver períodos longos de aleitamento e baixa exposição a fatores predisponentes, tais como tabagismo, obesidade e uso de álcool.