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Edição 240
04 de novembro de 2010
Na vida diária, com a modernidade e tecnologia acelerada é comum percebermos excesso de informações e acúmulo de tarefas. O tempo é dividido entre responder dezenas de e-mails, atualizar-se com as últimas notícias, bate-papos on-line e ao vivo, atender telefonemas, assistir aos programas de televisão, ler livros, fazer as tarefas domésticas e, mais recentemente, twitar, atualizar e responder os recados nas redes sociais. A partir disso, acontecem com maior incidência problemas de concentração e acúmulo de estresse devido aos excessos no dia a dia.
Todas essas tarefas, tão comuns na rotina da geração Y e dos interessados em tecnologia, afetam de forma negativa e, às vezes, quase imperceptível, a saúde, visto que julgamos o estresse como algo normal na vida de uma pessoa informatizada, atarefada e moderna. Porém, estar estressado ou ter dificuldades de concentração pode provocar diversos problemas e nos tornar pessoas menos saudáveis.
Para explorar o assunto, o Olhar Vital entrou em contato com Marco Py, neurologista e coordenador da Neuro-UTI do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), e com Allan Gonçalves Dias, médico psiquiatra da UFRJ e diretor adjunto de assistência do Instituto de Psiquiatria (IPUB) da UFRJ, abaixo as opiniões dos especialistas sobre o que o excesso de informações e tarefas pode causar nos dias de hoje:
Marco Py
Neurologista e coordenador da Neuro-UTI do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ)
“Tem sido descrito que o excesso de informações, geralmente muito superficiais, pode, sim, causar dificuldade da atenção e da concentração. A memória é afetada de forma secundária, pela alteração da atenção.
Assim, como a pessoa não fixa a atenção, não consegue reter as informações na memória. Além disso, há maior ansiedade e uma sensação de frustração, pela impossibilidade de cumprir todas as tarefas assumidas e responder todas as solicitações.
Outro fator é a superficialidade das informações, que gera a impressão de estar atualizado sobre tudo, porém sem a profundidade necessária para um juízo crítico das informações.”
Allan Gonçalves Dias
Psiquiatra diretor adjunto de assistência do Instituto de Psiquiatria (IPUB/UFRJ)
“Embora no passado a medicina acreditasse que o número crescente de estímulos externos levasse a um incremento das capacidades cognitivas de cada indivíduo, alguns estudos recentes têm demonstrado que a capacidade do ser humano de manter tarefas paralelas é mais limitada do que imaginávamos. Em suma, embora o cérebro humano possa executar tarefas simultâneas, a performance decresce à medida que mais estímulos vão surgindo.
Somos menos ‘multitarefa' do que se pensava. A atenção de todos nós se divide em vigilância ― que é a capacidade de se manter ligado ao meio ―; e a tenacidade, que é nossa capacidade de manter o foco em uma atividade.
Atualmente, esse ambiente sobrecarregado de estímulos carrega nossa vigilância e reduz nossa tenacidade. Estar em um desktop com quatro aplicativos rodando reduz nossa capacidade de ler um texto de forma concentrada na tela.”