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Edição 250
03 de março de 2011
Fernanda Mendes
O Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, terá um ar especial este ano: o primeiro com uma presidenta no comando do Brasil. No entanto, dados atualizados do “Rio Como Vamos”, publicados recentemente no jornal O Globo, mostram que a vida da mulher brasileira ainda não tem sido fácil. Visando a esclarecer a inserção do sexo feminino no atual mercado de trabalho e as consequências desta evolução profissional na saúde, o Por uma boa causa deste mês aborda temas que permeiam o cotidiano da mulher moderna.
De acordo com dados do “Rio Como Vamos”, de 2,2 milhões de pessoas em emprego formal ao final de 2009, na cidade do Rio de Janeiro, 59,4% eram homens e 40,6%, mulheres. Além disso, o salário médio das trabalhadoras era 13,2% inferior ao dos homens. Esses dados servem para mostrar que, apesar dos avanços, ainda existe desigualdade entre os sexos e um longo caminho de melhora nas políticas públicas a ser percorrido.
Na opinião da assistente social Erika Carvalho, do Centro de Referência de Mulheres da Maré (CRMM), apesar de a crescente inserção da mulher no mercado de trabalho se configurar como um grande avanço, na medida em que as mulheres passam a ocupar o espaço público que, hegemonicamente, era destinado aos homens, a inserção de mulheres de classes mais baixas ainda é precária.
“A maioria das mulheres que atendemos no Centro de Referência de Mulheres da Maré trabalha sem carteira assinada ou com vínculo empregatício precário. As dificuldades para a inserção das mulheres das classes populares no mercado de trabalho são inúmeras. A baixa escolaridade e a falta de uma rede de serviços que dê suporte a mulher trabalhadora são algumas delas”, cita a assistente social.
O CRMM, vinculado ao Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da UFRJ (Nepp-DH), é um centro que acolhe mulheres principalmente da Vila do João, uma das 16 comunidades que integram o bairro da Maré, lhes oferecendo atendimento psicossocial e jurídico e diferentes oficinas sociais, como biscuit, artesanato e culinária, dando condições para que as mulheres da Maré se reconheçam como cidadãs de direitos e possam ingressar no mercado de trabalho.
Evolução profissional e suas consequências na saúde
A evolução profissional feminina tem um preço, como a jornada dupla que acarreta cansaço excessivo, a gravidez precoce e a falta de tempo para cuidar da saúde, entre outras coisas, levam à mulher muitas vezes, ao esgotamento e ao estresse. “Acredito que a inserção da mulher no mercado de trabalho provoque um rearranjo nas relações e na organização do ambiente familiar. Porém, a mulher ainda sofre com a ‘dupla jornada’ de trabalho, como costumamos dizer, pois as desigualdades de gênero ainda persistem em nossa sociedade”, expõe Erika.
A profissional defende ainda que as longas jornadas semanais e a competitividade, características do mercado na atualidade, interferem na saúde da mulher, na medida em que ela tem menos tempo para cuidar de si mesma, pois precisa responder às exigências do mundo do trabalho. “De certa forma, as mulheres das classes populares são mais prejudicadas, pois o acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) é precário. Em um posto de saúde da Maré, por exemplo, há pouco tempo, não havia materiais básicos para a realização de exame ginecológico.”
A gravidez precoce é um dos problemas que mais atinge mulheres de classes populares. Segundo dados do “Rio Como Vamos” sobre mulheres que deram à luz em 2009, 16,7% delas tinham menos de 20 anos, percentual que não diminui desde 2006. A gravidez precoce muitas vezes é seguida de abandono dos estudos, o que dificulta o ingresso no mercado de trabalho. “O acesso à informação, através do planejamento familiar, e, consequentemente, aos métodos contraceptivos é de suma importância para o protagonismo feminino”, defende a assistente social.