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Edição 269
15 de setembro de 2011

Faces e Interfaces

Medicamentos genéricos: confiar ou não?

Rafael Gonzaga e Louise Rodrigues

Em uma pesquisa realizada pela Proteste Associação de Consumidores, foi indicado que, apesar de a população ter uma boa confiança nos medicamentos genéricos, os médicos desconfiam da eficiência do produto. De acordo com 45% dos especialistas que foram entrevistados para a pesquisa, o processo que avalia e controla a qualidade dos genéricos é menos exigente do que com os medicamentos de marca, podendo, na opinião dos entrevistados, estar sujeitos a falsificações.

Porém, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), esse tipo de suspeita dos médicos quanto à qualidade dos medicamentos genéricos não pode ser comprovada. Segundo resoluções da Anvisa, desde a implantação da Lei dos Genéricos no Brasil, os medicamentos genéricos devem ser avaliados através de ensaios bioquímicos laboratoriais e avaliações em voluntários humanos, de forma a se comprovar a equivalência e bioequivalência ao medicamento referência do mercado nacional. Esses rigorosos estudos foram posteriormente também estendidos aos medicamentos similares (medicamentos de marca comercial de mesmo princípio ativo dos medicamentos referência).

O que preocupa muitos profissionais é a variação na concentração do princípio ativo, que pode ser de até 20% em medicamentos genéricos. Essa variação aceita em termos do teor em relação ao declarado no rótulo de um medicamento é estipulada pela Farmacopeia, o compendio oficial do país que determina a qualidade mínima que o medicamento deve ter para ser comercializado naquele país.

Para discutir o assunto, o Olhar Vital convidou a professora doutora Valeria Pereira de Sousa e doutora Alycia Coelho César da Fonseca.

Profa. Dra. Valeria Pereira de Sousa

Coordernadora do Laboratório de Controle de Qualidade de Fármacos e Medicamentos - LABCq


“O medicamento genérico é uma realidade mundial e se aplica apenas a medicamentos cuja patente expirou. Neste caso, em grande parte, se aplicam a medicamentos consolidados e com grande número de estudos de segurança e qualidade já realizados. Uma ampla divulgação do processo de registro desse tipo de medicamento no país poderia conscientizar médicos e paciente das vantagens e segurança no seu uso.

Os medicamentos genéricos e similares só podem pleitear o registro para comercialização junto à Anvisa depois de comprovar sua qualidade comparativamente com o medicamento referência. Para que os medicamentos similares e genéricos sejam aprovados nos estudos laboratoriais, a diferença de teor do medicamento referência e do teor do candidato a genérico ou similar deve ser inferior a 5%.

Os ensaios de avaliação da qualidade devem ser realizados nos Laboratórios pertencentes à Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde. Esses laboratórios são habilitados pela Anvisa e sofrem regularmente rigorosas inspeções. Muitos desses laboratórios, inclusive, estão localizados nas principais universidades federais do Brasil”.


Dra. Alycia Coelho César da Fonseca

Chefe de Clínica Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - HUCFF)

"Eu confio nos genéricos, inclusive, eu só receito genéricos. O uso de medicamentos desse tipo é ótimo. O fato de ser um produto mais barato, facilita para o paciente e para os médicos. A falta de hábito, o costume de receitar medicamentos com mais tempo e tradição no mercado, a descrença no poder público, enfim, podem fazer com que haja certo preconceito em relação ao uso de medicamentos genéricos. Às vezes, a própria discrepância do preço do medicamento original para o genérico pode causar certa desconfiança.

Em minha opinião, os médicos deveriam aprender a lidar com isso, passar a ter confiança. Eu só prescrevo genéricos e faço questão de indicar três ou quatro opções de marcas, para que o paciente escolha. Como o preço dos medicamentos genéricos normalmente é padronizado, tenho pacientes que me ligam da farmácia para perguntar qual marca eu acho melhor. O barateamento do medicamento é essencial: um remédio que custa 60 reais, passa a custar dez reais. Com isso, nenhum paciente vai deixar de se tratar por conta de dificuldade financeira. Minha relação com os genéricos é de total confiança".

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