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		Edição 261
		26 de maio de 2011
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Com essa temática começou nessa  quinta-feira (26/05) o I Seminário “Agrotóxico nosso de cada dia”. Após a Feira  Agroecológica da UFRJ - evento inicial do Seminário - ocorreu uma mesa redonda  sobre o tema intoxicação por agrotóxicos, no anfiteatro Professor Francisco  Bruno Lobo (auditório Bezão), no Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ.
  O  primeiro componente da mesa a se pronunciar foi o professor João Paulo Machado  Torres, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ), que mostrou  o resultado de duas dissertações de doutorado orientadas por ele sobre um  assunto específico e histórico no caso dos agrotóxicos: o acúmulo de DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano)  nos peixes - primeiro pesticida moderno usado largamente para o combate aos  mosquitos causadores da malária e do tifo.
  Apesar  da presença do DDT em peixes ser um assunto bastante conhecido e discutido,  Torres trouxe para o seminário uma nova visão do problema. Especialista que  atua em cima do tema persistência ambiental, ele mostrou que apesar da  proibição do uso do herbicida, o elevado consumo de peixes na região e a  permanência da molécula do DDT no ambiente, ainda, fazem com que os níveis de  contaminação ultrapassem o tolerável e sejam repassados a crianças, através da  amamentação em taxas elevadas.
  Os  prováveis efeitos da contaminação por agrotóxicos apresentada pelo professor  João Paulo são da ordem dos efeitos crônicos, pois as consequências só vão  aparecer semanas, meses, anos ou em gerações seguintes, após o uso ou contato  com o produto. Diferente dos casos apontados pela professora Rosany Bochner,  pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, que coordena o Sistema Nacional de  Informações Tóxico-Farmacológicas – SINITOX. 
  O  sistema SINITOX tem como objetivo coordenar a coleta, a compilação, a análise e  a divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento notificados no país.  Contudo, como o envio de dados é voluntário, através da transmissão de dados  feita pela Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência  Toxicológica (Renaciat), os registros que chegam ao SINITOX são de casos que  ocorrem durante ou logo após o contato da pessoa com o produto, o chamado  efeito agudo. 
  Dentro  dessa área, entre outras informações, a professora apresentou dados que resumem  o quadro de intoxicação humana por agrotóxicos de uso agrícola – um dos agentes  com os quais o SINITOX trabalha. Segundo as análises, 60% dos intoxicados estão  na faixa etária entre 20 e 49 anos e a maioria é do sexo masculino. Entre as  causas da intoxicação, a tentativa de suicídio apareceu em primeiro lugar e a  de homicídio em quarto.   Isso foi explicado pelo uso do chumbinho, herbicida utilizado  como raticida, como arma e veneno para uso em humanos.
  Além  disso, a professora comentou sobre a presença residual de agrotóxicos nos  alimentos. Segundo dados exibidos, em pesquisas realizadas, muitos alimentos  apresentaram alto índice de resíduos de agrotóxicos, excedente ao limite, e uso  do produto não autorizado. Há duas classificações para os agrotóxicos, os  sistêmicos (que circulam através da veia) e os de contato (absorvidos por  tecidos internos da planta). Ou seja, mesmo lavando os alimentos, eles  permanecem no alimento, aumentando a intoxicação. 
  O  último palestrante do dia foi Carlos Gouvêa, da Floreal, que falou sobre os  aspectos sociais que envolvem as questão dos agrotóxicos. Segundo ele, a  questão da alimentação não deve ser a única via de protesto, visto que esse  tipo de produto faz parte de um sistema que engloba a manutenção do modelo de  agronegócio (monocultura em latifúndio voltado para exportação), em detrimento  dos pequenos agricultores.
  Para  Carlos Gouvêa essa é uma luta que envolve vários aspectos: uma reforma agrária  popular, promoção da diversidade de culturas, adaptadas a cada região.  Respeitando a sazonalidade dos alimentos; a viabilização de sementes puras  (criolas); a autonomia soa agricultores, entre outras coisas. 
  Encerramento
  O  Seminário continua amanhã (27/05), com duas palestras e uma apresentação  cultural. A primeira conferência ocorre de 10h às 12h, no auditório Bezão, e  tratará sobre Consumo Consciente, com Miriam Langenbach (Rede Ecológica). De  14h as 15h30, doutor Armando Meyer (Fundação Oswaldo Cruz, RJ) falará sobre os  efeitos dos agrotóxicos na saúde. 
  O  evento encerra, às 17h, com a apresentação do Coletivo Joaquim 71, grupo  multi-plural que conta com a participação de diversos artistas com o objetivo  de intervir em espaços livres, e outros convidados. 
  O  auditório Bezão fica na Avenida Carlos Chagas Filho 373, Bloco B, Cidade  Universitária.