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Edição 272
13 de outubro de 2011
No Instituto de Química (IQ) da UFRJ, em parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fármacos e Medicamentos (Inct-Inofar), foi desenvolvido o genérico para o Sutent®, medicamento indicado para o tratamento de alguns tipos de câncer no rim, estômago e intestino. O sunitinibe, cuja rota de síntese foi feita pela professora adjunta do IQ Bárbara Vasconcellos da Silva, juntamente com seu orientador de doutorado, professor Ângelo da Cunha Pinto, poderá ser produzido nacionalmente a um custo menor, quando a patente do medicamento expirar no Brasil.
A diferença do genérico para o Sutent® está na mudança das substâncias dos reagentes e das condições das etapas da produção. Segundo a doutora Bárbara, esta é “uma maneira mais eficaz e de menor custo. O núcleo análogo do genérico ao do medicamento é a substância isatina (ou 1H-indol-2,3-diona), com a qual o professor Ângelo vem trabalhando. Isso possibilitou que o desenvolvimento do sunitinibe ocorresse no laboratório do Inct”, ressaltou a pesquisadora.
O sunitinibe é indicado para o tratamento de tumor do estroma gastrintestinal (Gist), de carcinoma metastático de células renais (CMCR) avançado e de câncer pancreático. Ele funciona impedindo o crescimento de novos vasos sanguíneos que alimentam o tumor e ataca diretamente as células tumorais, evitando, assim, a sua multiplicação.
Entretanto, o Sutent® é um medicamento de alto custo – em torno de R$11 mil a caixa com 28 comprimidos de maleato de sunitinibe 50mg. Para a doutora Bárbara, “a descoberta do genérico tem um impacto social importante, visto que muitos pacientes entram na justiça para obter do governo esse medicamento”.
“O custo mais baixo pode tornar o sunitinibe acessível a uma maior parcela da população brasileira, à medida que ele possa passar a integrar o SUS” – observou o professor Angelo Pinto. No meio científico, a descoberta da nova rota de síntese do sunitinibe é comemorada como um marco que atesta a competência brasileira na área dos genéricos.
“É uma prova de que o Brasil pode produzir qualquer medicamento inventado em um país desenvolvido” – comemora o pesquisador, que teve que driblar as 472 patentes depositadas no mundo relativas ao sunitinibe, para descobrir um meio inédito de produzir a substância.
Por enquanto, a síntese do sunitinibe foi feita apenas em escala de laboratório. “Esta é uma estratégia adotada pelos chineses. Eles, antes da patente dos fármacos expirar, adiantam a sua síntese. Dessa forma, dá tempo para as indústrias nacionais adaptarem as rotas desenvolvidas na bancada de laboratório para a sua produção nos laboratórios da empresa”, explicou o doutor Ângelo.
A patente do Sutent® foi depositada no Brasil em 2005 e ainda está em vigor, uma vez que leva cerca de 20 anos para expirar. O que é um obstáculo para receber financiamento para a produção do fármaco. De acordo com o pesquisador, espera-se que “ainda este ano possa se depositar uma patente sobre o desenvolvimento de algumas etapas da síntese do sunitinibe”.
Outra questão importante para os pesquisadores é que atualmente os princípios ativos dos genéricos comercializados no Brasil vêm sendo importados da China, Índia e Coreia do Sul, principalmente. “É importante que passem a ser produzidos no país”, afirmou o especialista.