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Edição 245
09 de dezembro de 2010
Fadiga excessiva como se faltasse energia, dificuldade de concentração, insônia ou vontade de dormir demais, perda de apetite ou compulsão alimentar são alguns dos sintomas que, se prolongados por mais de duas semanas, podem indicar um quadro de depressão gestacional, transtorno que, apesar de afetar uma em cada cinco brasileiras, agrava-se com o silêncio das próprias mulheres que não relatam aos obstetras o que sentem. Os riscos são grandes para ela e para o bebê.
A psicóloga Priscila Krauss, doutoranda do Instituto Estudos em Saúde Coletiva (Iesc) da UFRJ, é uma especialista no tema. No trabalho que realiza no Laboratório de Pesquisas Epidemiológicas em Saúde Mental e Violências ao lado da equipe do professor Giovanni Marcos Lovisi, ela é uma das que defendem o apoio psicológico também no pré-natal.
Segundo ela, a mulher deprimida no período gestacional se está preocupa poucoda com o próprio estado de saúde e pouco se envolve no acompanhamento pré-natal, o que tem sido associado ao risco de mortalidade neonatal. As mulheres com depressão na gravidez alteram a quantidade e qualidade do que comem, ou deixam de comer ou comem o que tem muito açúcar e gorduras. Além de manterem outros comportamentos de risco, como consumo de álcool, o fumo e outras drogas.
A pesquisadora acredita que entre a comunidade científica é cada vez maior o número de profissionais que está deixando de associar as alterações hormonais pelas quais passa a mulher durante a gravidez com o desencadeamento da depressão. Os fatores socioeconômicos nas sociedades em que a mulher está inserida, principalmente no mercado de trabalho de modo formal ou informal, além do peso e da participação dela no orçamento familiar pesam bem mais.
Pesquisa mostrou taxa de depressão entre cariocas
Entre agosto de 2006 e julho de 2007, um estudo com 331 gestantes atendidas em uma unidade básica de saúde da cidade do Rio de Janeiro foi realizado para estimar a prevalência da depressão. Para avaliar a depressão, adotou-se o Composite International Diagnostic Interview (CIDI), a escala Stressful Life Events I foi adotada para levantar a presença de eventos estressantes e o Abuse Assessment Screen (AAS), para o rastreamento de violência contra a mulher durante a gestação. Além disso, os Critérios de Classificação Econômica da ANEP, para a estratificação socioeconômica, e um questionário para variáveis demográficas e clínicas foram utilizados.
Os resultados mostraram uma prevalência de depressão na gravidez de 14,2% (IC 95% 10,7 – 18,5), sendo os principais fatores associados: trabalho informal, história anterior de depressão, tratamento psiquiátrico prévio, gravidez não planejada, problema físico grave, conflitos com pessoas próximas e problemas financeiros.
“Em relação aos países desenvolvidos, as brasileiras têm uma prevalência de casos que é quase o dobro. Antigamente, acreditava-se que o período de gravidez era de maior proteção à mulher, mas está se vendo que a depressão é muito comum no período associado a fatores como falta de apoio social, dificuldade financeira com gastos atuais e futuros, desamparo do estado por trabalharem na informalidade e tantos outros”, afirma.
Priscila Krauss é adepta da ideia de que a depressão no puerpério, após o nascimento do bebê, é a continuidade de um quadro anterior. Os transtornos mentais afetam a saúde da mulher e o desenvolvimento do bebê, contribuindo para complicações obstétricas como baixo peso ao nascer, prematuridade e até mesmo anomalias fetais, além de comprometer o vínculo afetivo e a capacidade materna de cuidar dos filhos. Desnutrição e vulnerabilidade para apresentar transtornos mentais na vida adulta podem ser resultados de uma depressão feminina que não foi adequadamente tratada.
Conversar com amigos e companheiro, dividir tarefas, descansar e reduzir a carga de trabalho diminuem o estresse sobre a mulher e ajudam a melhorar os sintomas, mas, para Priscila Krauss, o melhor mesmo é procurar um psicoterapeuta, que saberá melhor conduzir um tratamento.
De acordo com ela, o tratamento da depressão na gravidez é complexa, pois é preciso considerar cada caso de forma particular estabelecendo a estratégia da terapia com respeito à autonomia do paciente. “Não temos relatos comprovados de que medicamentos antidepressivos causem mal às gestantes e ao bebe. Assim, o uso de medicamentos é seguro, especialmente o uso de inibidores de recaptação da serotonina. Mas a mulher e o médico precisam decidir juntos”, concluiu.