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Edição 250
03 de março de 2011
Professor Maulori Cabral: "O melhor é fazer de tudo para eliminar o vetor da doença e evitar a contaminação."
A dengue volta a ocupar espaço nos noticiários devido à elevação do número de casos notificados às secretarias municipais de saúde em todo o país. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença atinge cerca de 50 milhões de pessoas no mundo. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, a incidência nos dois primeiros meses deste ano aumentou dez vezes em comparação a igual período do ano passado. De 539 pulou para 5.663 casos registrados nas primeiras oito semanas do ano. E o pior, pela maneira como as autoridades lidam com as medidas preventivas, a tendência é o quadro se agravar.
Para o professor do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG/UFRJ), Maulori Curié Cabral, há razões para a visão pessimista. A primeira é a ineficácia na eliminação dos transmissores da doença, a fêmea do mosquito Aedes aegypti. A outra é, se os métodos não evoluírem, a disseminação entre a população do vírus tipo 4.
De acordo com o especialista, existem quatro tipos de vírus da doença e os infectados podem apresentar sintomas iguais. Há pessoas, no entanto, que são susceptíveis e outras resistentes ao contágio. As primeiras morrem sem nada poder ser feito, enquanto as outras apresentam elevada ou baixa suportabilidade à infecção. Quando uma pessoa é contaminada por um tipo de vírus, fica imunizada apenas contra ele, podendo ainda pegar as outras três formas. A maioria dos brasileiros está imunizada para os tipos 1, 2 e 3, em virtude das epidemias nos anos anteriores. Hoje, Maulori considera que a infecção se tornou endêmica no país e há surtos, com aumento de casos, nos períodos mais quentes do ano.
Muita gente é picada pelo mosquito infectado e não apresenta sintomas, em outros casos, a doença se manifesta como dengue “clássica”, com sintomas típicos como febre alta, dores de cabeça, dores musculares e nas articulações e machas vermelhas na pele. O problema é que quem já contraiu a doença corre o risco de sofrer com a dengue "hemorrágica", que se caracteriza pela queda na produção de plaquetas (coaguladores sanguíneos). De uma hora para outra, há uma piora no estado geral. Pequenos vasos na pele e nos órgãos internos se rompem sem que o organismo possa contar com os agentes coaguladores. Em muitos casos é letal.
Para o especialista, como existe um componente genético que permite ou não a evolução para a dengue hemorrágica, o melhor é fazer de tudo para eliminar o vetor da doença e evitar a contaminação. Colocar telas nas janelas para reter os mosquitos e eliminar os criadouros são as principais medidas. Mas, se a cada verão, as autoridades fazem campanhas e ações preventivas, o que anda errado?
Segundo Maulori, não adianta apenas matar os mosquitos apenas nas forma de larvas ou aladas, pois o larvicida e os fumacês se tornam ineficazes ao longo do tempo, além de serem tóxicos. As ações devem ter como foco os ovos do Aedes aegypti, que chegam a 300 por postura da fêmea e conseguem resistir até dois anos em áreas secas e escuras. Ele sugere, para manter a casa livre dos focos, uma boa inspeção em busca de criadouros e a montagem de armadilhas para atrair as fêmeas e romper o ciclo reprodutivo do mosquito, como as desenvolvidas há anos pela UFRJ.
Em Saquarema, no Estado do Rio de Janeiro, as secretarias de Educação e Saúde ensinam os estudantes da rede de ensino a fazer as armadilhas. “Lá, você pode passar o verão com tranquilidade, sem se preocupar com a dengue, porque as escolas monitoram cada aluno e mapeiam os locais de maior frequência dos mosquitos para erradicar os principais focos”, afirma Maulori Cabral.
O Aedes aegypti é um mosquito urbano e apenas as ações coletivas, a conscientização da comunidade, o zelo pelo bem-estar do vizinho são capazes de erradicar os mosquitos. “É uma questão de educação”, diz o professor, que gostaria de propagar a forma de fazer a “mosquitérica”, como se chama a armadilha que desenvolveu usando apenas uma garrafa PET - Instruções disponíveis no YouTube
Maulori Cabral acredita que alguns mitos surgidos em torno da propagação do mosquito mais prejudicam que ajudam à população. Por exemplo, a fêmea de Aedes aegypti não desova apenas em água limpa. Uma pequena quantidade de matéria orgânica, necessária para alimentar as larvas, deve existir no local. Além disso, os ovos são depositados próximo e não sobre a água parada. Por instinto de sobrevivência, a fêmea associa movimento à existência de peixes. O mosquito tem aversão à luz e se movimenta pelas sombras em ambientes onde a umidade é elevada, geralmente mais rente ao chão. A fêmea ataca a qualquer hora do dia e bate as asas tão rapidamente que nem sequer os ouvidos humanos captam o zumbido. A população deve se prevenir e prestar a atenção a pequenos reservatórios, como vasos de plantas e calhas entupidas, pois a melhor prevenção é evitar que o mosquito se multiplique.