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Edição 218
02 de junho de 2010

Por uma boa causa

Brincadeiras na infância podem evitar distúrbio na escrita

Michelly Rosa



Letra ilegível, lentidão na escrita e comportamento inquieto podem não significar indisciplina em sala de aula. No Por uma boa causa deste mês trataremos de distúrbios que afetam a escrita e repercutem no aprendizado. O primeiro da série é a Disgrafia, um transtorno que afeta forma, ritmo, significado ou até mesmo ordem de sílabas no momento da escrita. Não está ligada a qualquer comprometimento intelectual ou psicológico do indivíduo. É um fato recorrente e deve ser observado pelos educadores.  

De acordo com Renata Mousinho, fonoaudióloga e coordenadora do Ambulatório de Transtornos da Língua Escrita, da Faculdade de Medicina da UFRJ, a Disgrafia na verdade pode ser a causa de problemas psicológicos: “Quando a pessoa não consegue acompanhar os colegas de classe em cópias ou ditados, por exemplo, sua auto-estima pode ser atingida”. Apesar disso, o conteúdo da escrita não é influenciado pela disgrafia. “Se as crianças escrevessem através de computadores, por exemplo, não seria possível identificar um caso de disgrafia”, esclarece. 

As causas do distúrbio são diversas. Algumas crianças desenvolvem disgrafia com a cobrança excessiva por uma letra perfeita, o que a torna mais lenta. Outras não experimentam atividades psicomotoras o suficiente, ou seja, a coordenação-motora não é estimulada. “Brincadeiras normais, como correr ou pular, são atividades fundamentais para o desenvolvimento psicomotor da criança”, afirma a fonoaudióloga.  

Sobre a possibilidade de alguma herança genética contribuir para o problema, Renata afirma que o tema ainda é muito controverso:  “Alguns especialistas acreditam que sim, outros não. Depende do caso, a disgrafia pode ser agravada por herança genética ou apenas ser produto do meio”. 

Para identificar a Disgrafia, é necessário que as instituições escolares atentem para o problema e se possível tenham o acompanhamento de um fonoaudiólogo a fim de evitar ações que podem agravar o distúrbio. Segundo a coordenadora, exercícios massivos de caligrafia potencializam a disgrafia, por isso a criança com o problema deve ser encaminhada a um fonoaudiólogo e tratada de maneira correta. 

Os sintomas são claros: na escrita, o transtorno se manifesta através de movimentos sem coordenação, omissões de letras, sílabas ou palavras, traçados muito fortes ou muito fracos, lentidão, falta de cuidado com cadernos, entre outros. Enquanto na criança, mudanças de comportamento, alterações de postura, problemas emocionais sinalizam o problema. 

“A disgrafia pode ser tratada. Porém se identificada muito tarde, ou na fase adulta por exemplo, pode atrapalhar o indivíduo em concursos públicos. Os corretores não avaliam provas ilegíveis”, completa a especialista.

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