www.olharvital.ufrj.br
Edição 225
22 de julho de 2010
Uma criança na faixa dos cinco anos, que come todos os tipos de verduras e se alimenta de forma adequada parece um sonho para pais de todo o mundo. Isso ocorre principalmente devido à independência e autonomia não só na escolha dos alimentos como também nas brincadeiras comuns da época que a criança conquista nesta fase da vida. A criança passa a preferir brincar ou ver TV em vez de se alimentar ou escolher o alimento a partir da cor ou aparência.
O que não se sabe é que o convívio familiar pode ser essencial para a boa alimentação da criança e que depende dos pais e familiares entender os limites da criança e estabelecer regras para o momento da alimentação.
De acordo com a nutricionista Elizabeth Accioly, professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro da UFRJ (INJC/UFRJ), os hábitos alimentares são ditados pelo meio cultural e familiar em que a criança vive: “Se a família tem bons hábitos de alimentação, se a hora da alimentação é um momento de prazer, não só pelo ato de comer, mas também pela oportunidade de integração, convivência, acolhimento, tem-se um ambiente mais estimulante para incorporação de boas práticas alimentares”.
Um ato muito comum na tentativa de melhorar a dificuldade de comer das crianças é a utilização de remédios estimulantes do apetite. Porém, se tais artifícios são utilizados sem a oferta de uma alimentação saudável à criança não há garantia de qualidade do processo alimentar. Segundo a professora, a melhor saída para estimular uma boa alimentação em crianças é oferecer experiência alimentar pautada nos princípios gerais da alimentação saudável, incluindo alimentos dos diferentes grupos (leite e derivados, carnes e substitutos, hortaliças e frutas e cereais), com ênfase em alimentos naturais no lugar dos industrializados.
Dificuldades do desenvolvimento
O bom nível nutricional na alimentação da criança pode contribuir não só para o controle do peso, como também no desenvolvimento imunológico e de aprendizagem.
Uma dieta baseada em alimentos basicamente energéticos pode garantir a saciedade da criança, mas criar deficiências nutricionais graves como anemia, falta de cálcio, ou vitaminas e minerais essenciais para o bom desenvolvimento.
“Para uma boa alimentação da criança sem dificuldades é necessária a apresentação de alimentos diversos, como frutas, legumes, saladas verdes, além de leite e derivados,” esclarece Elizabeth.
Como resolver o problema
Há em algumas sociedades, a crença de que comer muito é comer bem. Porém, isso pode acarretar em problemas justamente na alimentação da criança. Dessa forma, não obrigar a criança a comer é uma das melhores formas de entender e respeitar seus limites e necessidades. Para a nutricionista, cada criança, individualmente, tem suas necessidades e a quantidade de alimentos para atender às demandas para crescimento:
“A forma mais objetiva de avaliar se a criança está atendendo às suas necessidades nutricionais, é observar seu crescimento e desenvolvimento e seu comportamento cotidiano (se está ativa, interessada no meio que a cerca, se adoece com facilidade, etc)”.
Além disso, o tratamento através de um nutricionista e com a participação e comprometimento de toda a família pode resolver as aversões da criança ao momento da alimentação. Mas como?
Segundo Elizabeth, estabelecer horários fixos para as refeições, oferecer pequenas porções atendendo às necessidades de uma criança, além de evitar os famosos “petiscos” entre as refeições são os primeiros passos para se garantir um bom momento de alimentação para seu filho.
Somado á isso, a nutricionista recomenda que se utilizem estratégias para “mascarar” os alimentos, ou seja, disfarçá-los de alguma maneira divertida ou dentro de outros alimentos como o feijão, além de variar o cardápio e promover um ambiente tranquilo para a refeição, ou seja, evitar que a criança coma assistindo TV ou realizando outras atividades que possam lhe desconcentrar do momento da alimentação.
Diante dessas dicas, se a criança permanecer com a dificuldade na alimentação, a nutricionista alerta que não a castigue: “Deixar de realizar uma refeição, no caso de uma criança aparentemente saudável, não implicará em problemas de saúde e, certamente, a criança estará com mais fome para a refeição seguinte”.