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Edição 236
07 de outubro de 2010
O grande vilão das noites mal-dormidas é o estresse. A realização de muitas tarefas no trabalho e em casa pode contribuir para um cansaço constante que acarreta sonolência diurna. Porém, é importante saber que mais do que o estresse, a causa de problemas de cansaço excessivo e sonolência durante o dia podem ser resultado de distúrbios do sono. Segundo uma pesquisa realizada pela Academia Brasileira de Neurologia, esses distúrbios atingem cerca de 40% dos brasileiros.
Para esclarecer o assunto, o Olhar Vital conversou com o médico Gleison Marinho Guimarães, coordenador do Laboratório do Sono do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF- UFRJ), o primeiro localizado em um hospital público no estado do Rio. “Falando no âmbito geral, as causas mais frequentes de sonolência e cansaço excessivo, no mundo atual, têm muita relação com a qualidade e a quantidade do sono”, afirma. Para o médico, um fator que deve ser levado em conta é a privação de sono. Pessoas dormem menos atualmente e isso mostra o quão elas podem estar mais cansadas e mais sonolentas durante o dia. “A gente tem pessoas que dormem quatro horas em vez do tempo ideal de sono, que é de sete a oito horas diárias”, diz Guimarães.
Além disso, há distúrbios neurológicos ou motores em grande escala no Brasil. Dentre os mais comuns estão a apneia, caracterizada pela suspensão da respiração durante o sono; o processo de ranger os dentes durante o sono, popularmente conhecido como bruxismo; e o movimento periódico de pernas, ou síndrome das pernas inquietas.
Para evitar esses distúrbios, o essencial é que não haja sono fragmentado. As oito horas diárias devem ser ininterruptas e sem interferências, também chamadas de “despertares”. Há casos, por exemplo, em que a queda da taxa de oxigênio durante a noite pode provocar inúmeros “micro-despertares” no sono de pessoas apneicas, e assim causar cansaço nos dias seguintes. “No caso de idosos, é comum maior tendência à fragmentação do sono. Devemos destacar aqui o prostatismo no caso masculino, gerando maior volume de urina noturna. Nestas situações, recomenda-se complementação do sono durante o dia. Ou seja, o sono de idosos pode ser polifásico, o mesmo sono que acontece com os recém-nascidos, um sono com diversas fases durante o dia”, afirma.
Gleison Guimarães explicou que a prática frequente de esportes estimula a liberação de substâncias que melhoram a qualidade do sono. Exercícios como ioga, pilates e técnicas de relaxamento podem ajudar a evitar alguns distúrbios do sono. Além disso, o médico ressalta a importância de manter uma boa alimentação com ferro (complexo ferritina) e vitamina B12.
Sobre o uso de medicamentos para resolver a insônia, o médico esclarece que, comumente, a indução ao sono ocorre de forma errônea. A classe principal utilizada no Brasil é a dos benzodiazepínicos, como Diazepan, Lexotan, Cloxazolan, entre outros. Segundo o especialista, a população usa estes remédios em demasia e de forma extremamente indiscriminada. “Essas medicações tem forte indução de dependência. A partir do momento em que o paciente começa a usar, ele pode ter enorme dificuldade em largar o medicamento. No caso do paciente que tem insônia, ele deve procurar um especialista para orientá-lo, e não como forma de automedicação”, conclui o médico.
O Laboratório do Sono do HUCFF é uma unidade onde se estuda os distúrbios do sono através de monitorizações de alguns parâmetros para realizar um exame chamado polissonografia. Neste exame, pretende-se monitorizar o eletroencefalograma (parte neurológica principal do exame). “Através dele, podemos dizer se o paciente dorme ou está acordado, quando tempo dormiu, em quais fases do sono ele se encontra, se ele tem um sono superficial ou profundo, em que fases do sono ele tem problemas etc”, afirma Guimarães. Também há monitorização do eletromiograma, geralmente colocado no queixo ou na perna dos pacientes, a fim de detectar casos de bruxismo ou o movimento periódico de pernas.
Na parte respiratória do exame, há a monitorização de microfonia de ronco para definir se o ronco é intenso, constante, leve, e qual a intensidade e gravidade. Além disso, o uso de cintas toráxicas e abdominais permitem monitorar o esforço respiratório de cada paciente durante a noite, e assim identificar e diferenciar o tipo de apnéia de cada um deles.
A criação do Laboratório tem apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e tem previsão para iniciar as atividades ainda esta semana.