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Edição 214
06 de maio de 2010

Faces e Interfaces

“Como vai sua saúde?”


Bruno Motta e Marlon Câmara

O IBGE, em parceria com o Ministério da Saúde, fez essa pergunta em todo o país e o resultado foi divulgado no último mês. O Sudeste foi a região com maior percentual de pessoas que se dizem saudáveis. Do total de entrevistados na região, 80,1% responderam que sua saúde ia “bem” ou “muito bem”. 

Para procurar avaliar esse resultado, o Olhar Vital convidou o professor Alexandre Palma, da Escola de Educação Física e Desportos, e Rafaela Rangel, pesquisadora do CEPNUC (Centro de Pesquisa em Nutrição Clínica) do Instituto de Nutrição Josué de Castro.  

Alexandre Palma

Professor da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ


“Em que pese à ciência biomédica considerar que se devam praticar exercícios físicos regularmente e se alimentar de um determinado modo, é preciso ter certo cuidado com esses entendimentos. Obviamente, a prática de exercícios e uma alimentação balanceada podem ajudar os indivíduos, mas apresentar tais comportamentos não nos cura de todos os males, e é interessante entender que a saúde é algo extremamente complexo, que sofre influência de diferentes aspectos. Além disso, é preciso tomar cuidado com prescrições moralistas, que imputam ao indivíduo à obrigatoriedade de cumprir determinados comportamentos e, se não os cumprem, os sujeitos passam a ser culpados por suas doenças. 

Mas pessoas que praticam exercícios físicos e gostam de fazê-los podem ter alguns benefícios associados, sim. Por exemplo, nas que praticam exercício aeróbico pode-se observar alterações no sistema cardiovascular, na capacidade de transportar e utilizar o oxigênio e a redução da gordura corporal. De certo modo, isso poderia ser importante para redução da pressão arterial, contribuir para redução da probabilidade de ocorrência de outras doenças cardiovasculares e evitar a obesidade, além de favorecer a uma maior resistência. No caso do treinamento de força, poderíamos observar aumento da massa muscular e óssea contribuindo, assim, para evitar alguns problemas relacionados a esses sistemas, como a sarcopenia (redução da massa muscular) e osteopenia (redução da massa óssea), comuns com o envelhecimento. 

Existem problemas, porém, quando tentamos associar atividades físicas e boa alimentação à saúde. Para sermos saudáveis, do modo como prega a ciência, temos que realizar exercícios físicos, comer adequadamente, não fumar, beber moderadamente, não usar drogas, não termos relações sexuais sem proteção etc. São muitas prescrições, mas nada nos garante que tenhamos sucesso ao final. 

O Rio de Janeiro, em especial, tem alguns aspectos que fazem com que seus habitantes sejam mais saudáveis, porém possui outros que podem os tornar menos. Por exemplo, a característica da temperatura elevada na cidade poderia ser favorável à menor ocorrência de doenças respiratórias comparada a regiões frias, mas poderia ser desfavorável para ocorrência das doenças chamadas tropicais. Em relação à prática de exercícios a temperatura também pode ser um fator preocupante, em decorrência de problemas relacionados à termorregulação e à desidratação.” 

Rafaela Rangel

Pesquisadora do Centro de Pesquisas de Nutrição Clínica, vinculado ao Instituto de Nutrição Josué de Castro – UFRJ

“Uma vida saudável é uma combinação de ações que a pessoa deve ter com ela mesma. Como a prática de atividade física, a postura corporal, dormir o suficiente para um bom descanso diário, uma alimentação saudável entre outras coisas. 

Alimentação saudável não significa privar-se do prazer de comer. Podemos encontrar tipos de preparações que conservam o sabor e as propriedades nutritivas dos alimentos. Ingerir líquidos durante o dia é uma atitude simples, mas de grande valia para que o corpo mantenha suas funções. 

Uma boa alimentação deve levar em conta, antes de mais nada, as necessidades particulares de cada indivíduo. Uma pessoa com diabetes, por exemplo, não pode submeter-se ao mesmo cardápio alimentar que uma pessoa sem a presença dessa patologia. Por isso, há a necessidade do acompanhamento com um profissional apto a orientar e a prescrever uma dieta equilibrada para cada tipo de situação. 

A negligência com a saúde pode causar sérios danos, dentre eles doenças como o diabetes, a hipertensão arterial, as doenças coronarianas, entre outras, que podem e devem ser prevenidas com a adoção de um estilo de vida saudável. A população deve se conscientizar de que mudanças de atitude, que nem sempre precisam ser grandiosas, podem contribuir para uma vida de maior qualidade e longevidade. 

Considerando que o Sudeste é a região que acomoda as principais cidades brasileiras, sendo o Rio de Janeiro uma delas, infere-se que a população que compõe esse espaço, em relação as áreas mais afastadas do centro econômico, forme um conjunto que tem menos dificuldade de acesso às informações e aos recursos públicos, dentre eles os correspondentes à saúde, inclusive a saúde alimentar. Consequentemente, isso possibilita um quadro mais positivo de conscientização e de busca por uma alimentação mais saudável. Aqui estou desconsiderando os casos de privação, obviamente. 

Mas, no que tange a população carioca e a busca por hábitos alimentares mais adequados, percebe-se que realmente existe, entre uma boa parte da população do Rio de Janeiro, uma preocupação frequente com a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis. Uma das causas é a busca por uma modelação ideal do corpo."

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