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Edição 233
16 de setembro de 2010
Pesquisadores da Universidade Linkoping, na Suécia, divulgaram na ultima semana, resultados de um estudo sobre como córneas sintetizadas em laboratório podem melhorar a visão de pacientes com deficiências visuais graves. Surge, assim, a possibilidade de mais uma opção de tratamento. Porém, ao mesmo tempo, surgem também questões sobre a utilização e o funcionamento desses novos implantes.
Para aprofundar o assunto, o Olhar Vital conversou com o doutor Ricardo Lamy, médico do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/ UFRJ). Segundo o oftalmologista, a córnea é um tecido avascular e transparente que permite a passagem de luz para dentro dos olhos. Lesões na córnea podem levar ã formação de cicatrizes opacas, que, portanto, não permitem ou dificultam a passagem da luz. “Nestes casos, o transplante de córnea é válido, porém o experimento com córneas sintetizadas não é a solução para todos os casos de doenças corneanas, pois só é capaz de substituir a porção anterior da córnea, ou seja, é indicada para cicatrizes mais superficiais. Pacientes que apresentam acometimento de toda a espessura da córnea, ou mesmo só da porção posterior, não se beneficiam da técnica. Ainda há grande dificuldade para se conseguir sintetizar um tecido corneano nestes casos”, argumenta Lamy.
Implantes tradicionais x córneas sintetizadas
Quando um paciente recebe uma córnea doada por outro ser humano, está recebendo um órgão cheio de células vivas, que algumas vezes podem ser rejeitadas pelo sistema de defesa. Por isso, sempre é preciso que seja feita a supressão do sistema imune do paciente transplantado. Essa supressão, no caso do transplante de córneas, é feita com o uso de corticoides, cujo uso prolongado pode levar a efeitos adversos não desejados como, por exemplo, aumento da pressão ocular e catarata.
Em contrapartida, as córneas sintetizadas são compostas basicamente por colágeno e substâncias extracelulares, que servem de estrutura para o crescimento de células do próprio paciente receptor, reduzindo, assim, a chance de rejeição.
Basicamente, o implante é uma estrutura que permite a integração e o crescimento de células do paciente receptor. Embora o paciente volte a ter sensibilidade, a regeneração de nervos corneanos nunca é completa. Essa regeneração parcial também ocorre nos pacientes que recebem transplantes de córneas humanas e nos pacientes que realizam cirurgia a laser para correção da miopia.
Recebimento de córneas
Espera-se que os transplantes de córnea sintetizada possam representar uma solução de maior relevância para alguns deficientes visuais e, assim, diminuir as filas para transplantes tradicionais. “As filas para receber córneas são estaduais. Alguns estados, como São Paulo, possuem vários bancos de tecidos autorizados a captar córneas e, com isso, conseguem manter filas com tempo de espera curto. Porém, o Rio de Janeiro, por problemas políticos e econômicos, infelizmente, apresenta uma longa fila de espera”, conclui Lamy.