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Edição 208
11 de março de 2010
Foto: Divulgação |
Professora Wânia Fernades afirma: "as perspectivas do IBGE para 2050 são de que tenhamos mais de 34 milhões de idosos. E o que vamos fazer com essa população se continuarmos a entender que envelhecer é perder?" |
Uma mudança de paradigma. Essa é a proposta do Projeto Velhice Educação e Cidadania, do Laboratório de Linguagens e Mediações do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES/UFRJ), coordenado pela professora-doutora Vera Helena Ferraz de Siqueira. Apresentado ano passado no Encontro de Extensão do Centro de Ciências da Saúde, o projeto almeja, a partir de oficinas com professores da rede municipal que trabalham com educação de jovens e adultos, a inserção do idoso no sistema educacional, reafirmando sua condição de cidadão.
“Vem crescendo bastante o número de idosos. Eles já compõem mais de 13% da população do país. As perspectivas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para 2050 são de que tenhamos mais de 34 milhões de idosos. E o que vamos fazer com essa população se continuarmos a entender que envelhecer é perder?”, analisa a professora Wânia Ribeiro Fernandes, doutora em Educação em Ciências e Saúde do Laboratório de Linguagens e Mediações e responsável pela condução das oficinas do projeto.
De acordo com a professora Wânia, as propostas das políticas públicas do envelhecimento almejam a inserção da pessoa idosa em projetos de educação, até como maneira de garantir a cidadania desta parcela da população. Entretanto, há dificuldade para tal em razão “de os idosos terem algumas especificidades que necessitam de uma abordagem diferenciada, como a memória, a linguagem e o tipo de material para facilitar o aprendizado. Os projetos de educação de jovens e adultos trabalham com materiais pedagógicos e abordagens mais direcionadas aos jovens”, afirma.
Todavia, um dos principais obstáculos para a inserção do idoso está na postura do professor. “A partir do momento que temos um professor que considera que o idoso não precisa estudar, que aquilo é apenas uma distração, qualquer coisa serve. Muda a dedicação dele no aprendizado do seu aluno e a perspectiva do trabalho”, avalia Fernandes.
As oficinas
Nas oficinas, professores e bolsistas do Laboratório de Linguagens e Mediações trabalharão com até 15 professores da rede pública de ensino. “Para que a gente possa oferecer algo, é necessário que saibamos do que eles (professores da rede municipal) estão precisando. Então queremos fazer um diagnóstico em relação a que informação esses professores têm sobre o envelhecimento e de que maneira estão lidando com isso e trabalhando no âmbito de educação de jovens e adultos”, esclarece Wânia.
Serão usados materiais interativos, vídeos, textos para apresentar aos professores de educação de jovens e adultos as características do envelhecimento. O que efetivamente acarreta no que diz respeito a alterações e mudanças fisiológicas e cognitivas, além de mitos em relação a alterações conhecidas popularmente como decorrentes do envelhecimento. “Alguns são construídos socialmente, até com preconceito, evitando a inserção da pessoa idosa”, diz a professora.
Em um segundo momento, a proposta da oficina é utilizar o próprio material didático disponibilizado pelo Ministério da Educação. “O objetivo é pegar o material disponibilizado aos professores de cada disciplina e verificar de que maneira o envelhecimento está sendo enfocado. O que vem sendo falado no material pedagógico de Ciências, de Literatura, entre outras. O que está sendo discutido a respeito de ética e cidadania”, relata Wânia Fernandes.
Em resumo, o Projeto Velhice Educação e Cidadania discutirá ajustes necessários para o melhor aprendizado dos alunos idosos. “Queremos trazer a informação adequada, técnica, para os professores das escolas municipais, tendo em vista a inserção e limitações da pessoa idosa, para que possamos discutir com eles e mostrar outras possibilidades diante da educação de jovens e adultos”, conclui a responsável pela condução das oficinas.
Perspectiva
Ainda não está pronto o calendário de realização das oficinas. “Supomos que consigamos organizar pelo menos três oficinas ao longo do ano: uma antes de julho e mais duas até o fim do ano. Essas oficinas terão como produto artigos a serem publicados”, conta a professora Wânia.
Para ela, há dois principais resultados que o projeto pode trazer: “Que as pessoas possam estar mais bem informadas a respeito, principalmente na área da educação e saúde, sobre a questão do envelhecimento. Entendam isso como um processo da vida, com menos preconceito. E que possibilite, efetivamente, a inclusão da pessoa idosa no sistema educacional de uma outra forma; de maneira mais séria e com projetos mais específicos, garantindo um melhor exercício de cidadania para os idosos. A partir daí, podemos propor alterações do sistema educacional até em âmbito ministerial.”