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Edição 228
12 de agosto de 2010
Problemas psíquicos têm se tornado cada vez mais comuns nos dias atuais, levando, por um lado, ao crescimento da procura por acompanhamento médico e tratamento psicológico e, por outro, ao avanço dos métodos de diagnóstico.
Em palestra, no último dia 30, Miguel Chalub, professor do Instituto de Psiquiatria (Ipub) da UFRJ e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e especialista no estudo da depressão, explicou o surgimento das psicoterapias, no final do século XIX, após as migrações do meio agrário para o meio urbano.
Em entrevista para o Olhar Vital, Chalub falou sobre transtorno de estresse pós-traumático, uma doença cada vez mais encontrada na sociedade contemporânea.
"O transtorno do estresse pós-traumático é uma resposta retardada ou protraída a uma situação ou evento de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica e que provocaria sintomas evidentes de perturbação psíquica na maioria dos indivíduos. O período que separa a ocorrência do traumatismo do transtorno pode variar de algumas semanas a alguns meses", define o professor.
Chalub acrescenta que apesar da presença de fatores predisponentes, tais como traços de personalidade ou antecedentes de tipo neurótico, contribuírem para aumentar as chances de haver ocorrência da síndrome ou agravar sua evolução, tais fatores não são necessários ou suficientes para explicar a ocorrência da doença.
Segundo o professor, o transtorno passou a integrar as classificações psiquiátricas a partir da observação dos problemas causados pela vida moderna nas relações interpessoais e no trabalho. "Na verdade, a introdução do conceito foi mais uma imposição do movimento dos direitos dos trabalhadores e respectivos sindicatos do que uma verdadeira entidade clínica. Daí ser difícil uma caracterização precisa para o distúrbio. Tudo fica muito na dependência da ideologia médica vigente e do 'politicamente correto'. O diagnóstico é muito subjetivo e não há nenhum exame comprobatório", opina Chalub.
Sobre a utilização indiscriminada das palavras estresse e trauma, Chalub concorda que houve uma banalização de tais termos, dependendo dos interesses de cada um. "Se eu quero, qualquer ocorrência da vida vira 'trauma' ou 'estresse'; se não quero, acontecimentos bastante desagradáveis, ameaçadores e até catastróficos serão por mim bem elaborados após um pequeno período de sofrimento humano natural, haja vista a morte de um ente querido", exemplifica.
Evento
Quem quiser saber mais sobre o assunto, o Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Ipub-UFRJ) oferece, no dia 20 de agosto, às 10h30, palestra sobre terapia cognitivo-comportamental do transtorno de estresse pós-traumático.
O evento acontece no auditório Leme Lopes no Ipub, Avenida Venceslau Brás, 71, fundos, Botafogo-RJ.