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Edição 209
18 de março de 2010

Ciência e Vida

Amamentação deve ser exclusiva durante os primeiros meses de vida do bebê



Estudo realizado pela UFRJ e Fiocruz revela que baixa escolaridade é um dos fatores que levam a mulher a interromper a amamentação

Ana Zahner


Foto: Banco de Imagens UFRJ

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo até aos seis meses de idade do bebê. A introdução de novos alimentos antes disso não é aconselhável, pois o leite materno já supre todas as necessidades do bebê. No entanto, frequentemente observa-se a substituição do leite materno por fórmulas, o que prejudica o desenvolvimento da criança emocional e fisicamente. 

Em recente estudo realizado em parceria entre a UFRJ e a Fundação Oswaldo Cruz, obtiveram-se dados preocupantes, comparando mães que concluíram o Ensino Fundamental com aquelas que terminaram essa etapa de estudos. As mulheres do primeiro grupo, segundo os resultados, têm uma chance 29% maior de introduzir leite artificial na alimentação do bebê. O professor Marcus Renato de Carvalho, pediatra e especialista em amamentação do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ), ressalta que o nível de escolaridade é apenas um dos fatores da interrupção do aleitamento materno. 

“A lactação é natural, é hormonal; mas a amamentação é uma cultura. O bebê não mama sozinho, deve ser colocado pela mãe”, diz o professor. E muitas coisas influenciam essa cultura: a oferta de fórmulas, a situação social da mãe, os conselhos da família etc. No caso da baixa escolaridade, muitas vezes ela está aliada a um emprego informal, sem direitos trabalhistas assegurados. Assim, a mãe não pode parar de trabalhar durante os quatro meses em que é necessário amamentação exclusiva e, muito menos, durante os seis meses recomendados pela OMS. 

O pediatra observa que na década de 70 acontecia o inverso do que o estudo revela. Talvez pela publicidade que não chegava às famílias de baixa renda, ou pelo próprio preço das fórmulas e do leite em pó, eram as famílias das classes mais altas que amamentavam menos. Isso mudou, porém, e criou-se uma nova cultura: do leite fraco e do leite insuficiente. Assim, ganharam força os produtos industrializados, que se propagaram rapidamente, alegando ser o ideal para o bebê. Aliado a uma vida cada vez mais apressada, a alternativa das fórmulas começou a ser muito utilizada. 

Atualmente, com a onda do natural, o aleitamento materno vem ganhando cada vez mais força, especialmente nas famílias mais escolarizadas e de mais alta renda. Estudos já comprovam que crianças que tiveram amamentação exclusiva até os quatro meses ou mais têm menor incidência de asma, dermatite atópica e rinite alérgica. O colostro, primeiro leite após o parto, é chamado de “primeira vacina”, tendo importante função na imunidade do bebê. 

O profissional de saúde tem grande papel nessa cultura, pois ele dá o apoio necessário para a mãe continuar amamentando. Na maternidade começa esse movimento, com o alojamento conjunto: prática que consiste em colocar mãe e filho juntos, logo após o nascimento. Tem o papel de fortalecer o vínculo mãe-filho e estimular o aleitamento materno o quanto antes. Além de permitir o aprendizado materno sobre como cuidar do recém-nascido, reduz o índice de infecção hospitalar. 

Outra grande influência neste processo é o pai, que deve estar presente para apoiar a mãe emocionalmente e ajudar nas horas necessárias. A ejeção do leite pode ser bloqueada pelo estado emocional da nutriz e, por isso, é importante essa ajuda. Marcus Renato afirma que toda mãe é capaz e está naturalmente preparada para a amamentação. O que deve ser trabalhada é a cabeça.

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