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Edição 267
18 de agosto de 2011
A cada ano, mais de 367 mil brasileiros dão entrada em hospitais por conta da asma, representando gastos superiores a R$ 600 milhões aos cofres públicos, segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, a doença mata cerca de oito pessoas por dia no Brasil. Para esclarecer sobre o que exatamente é a asma, a professora Ekaterini S. Goudouris, do departamento de pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e médica do serviço de Alergia e Imunologia do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ), forneceu algumas informações importantes sobre o tema. “Trata-se de uma doença inflamatória crônica de vias aéreas inferiores, na maioria das vezes de origem alérgica. A doença se manifesta em episódios recorrentes de falta de ar, tosse, desconforto para respirar e secreção.”
Para falar um pouco mais sobre o assunto, é necessário saber que alérgenos são substâncias reconhecidas como “estranhas” ou “perigosas” pelo sistema imunológico de algumas pessoas, enquanto não causam maiores reações na maioria da população. “Em nosso meio, a região sudeste do país, os alérgenos mais importantes são os ácaros. As fezes deles são bastante alérgicas e se espalham pela poeira, por isso o controle doméstico dessa poeira se torna essencial. Outros alérgenos relevantes, mas menos importantes no nosso meio, são os fungos, epitélio de cão, gato, roedores e de baratas também. Há ainda o pólen, mas esse não chega a ser um problema em nossa região”, relata Ekaterini.
Pesquisas recentes realizadas pela Universidade Federal de Pernambuco chegaram ao resultado de que a presença de baratas pode ampliar o risco de asma entre crianças e adolescentes. De acordo com a pesquisa, a incidência de asma em pessoas que moram em residências onde foi constatada a presença desses insetos é até três vezes mais elevada do que entre os moradores de casas onde não há a existência deles. Os pesquisadores examinaram 172 domicílios dedetizados em Recife para verificar a existência de baratas mortas, confirmando a exposição dos moradores aos insetos. Das 79 crianças expostas às baratas, 32% tinham asma; no grupo de 93 crianças que residiam em casas onde não foram encontradas baratas, 12% tinham asma.
“A reação a baratas é conhecida já há muito tempo; logo, medidas de higiene que visem combatê-las são muito importantes. Entretanto, como já citado, os ácaros são os alérgenos mais prevalentes em nosso meio. Cuidados com a poeira doméstica, evitando objetos que facilitem seu acúmulo e dificultem a limpeza, além da implantação de forros impermeáveis nos colchões, são medidas fundamentais de controle do ambiente”, alerta a professora. No caso ainda das baratas, vale salientar que o inseto não precisa estar vivo para proporcionar a alergia. Quando a barata é morta, partículas do seu exoesqueleto se decompõem e permanecem no ambiente. Mesmo que a pessoa não possua predisposição à asma, outras alergias podem se manifestar.
O mercado farmacêutico brasileiro tem à disposição todos os recursos necessários para o tratamento adequado da asma. A professora Ekaterini menciona inclusive o programa para atendimento especial dos pacientes portadores de asma, pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, nos chamados Polos de Asma, onde os pacientes recebem medicações e acompanhamento.
De acordo com a professora, “no IPPMG, os ambulatórios de alergia e de pneumologia estão vinculados a esse programa. Apesar de ser um grande avanço ocasionando redução da morbimortalidade, infelizmente, não há nesses Polos de Asma a distribuição de medicações mais adequadas aos pacientes mais graves. Além disso, em alguns casos selecionados, há também a indicação de tratamento com vacinas hipossensibilizantes, manejadas pelo especialista em Alergia e Imunologia Clínica, mas que não são fornecidas pela maioria dos serviços públicos”. Vale ressaltar que o primeiro passo nos cuidados com a asma deve sempre começar dentro das próprias residências: a solução é higienizar.