www.olharvital.ufrj.brEdição 227
05 de agosto de 2010
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O aquecimento global, somado aos efeitos das ações do homem sobre a natureza, pode estar levando as praias à extinção. O motivo para o alarde é a escassez progressiva da areia que, de acordo com especialistas, pode ser causada por diversos fatores.
“Uma praia perde sua areia quando a quantidade retirada, por processos naturais ou pela ação do homem, não é reposta na mesma proporção. A não reposição pode ocorrer pelo esgotamento das jazidas, podendo ser intensificada por efeito de tempestades, mudança de direção de transporte sedimentar, por modificações na direção de incidência das ondas e pela elevação do nível do mar”, explica o geógrafo e geólogo Dieter Muehe, professor aposentado do Instituto de Geociências da UFRJ.
Embora muitas das causas sejam naturais, a areia também pode ter sua escassez relacionada à intervenção do homem. Construções realizadas próximas às áreas litorâneas afetam o fluxo natural de areia das praias, o que pode contribuir para a sua redução. “Um dos motivos da interrupção do fluxo de sedimentos ao longo da orla é a existência de obras que possam reter os sedimentos. Por essa razão uma compreensão devida da localização das jazidas naturais e da circulação oceânica é fundamental para evitar obras inadequadas”, relata o professor.
Os prejuízos causados pela falta de areia não dizem respeito somente às praias, mas também à estrutura urbana das cidades localizadas no litoral. “A diminuição da largura da faixa de areia representa a perda do ‘amortecedor’ que se interpõe entre a terra firme e o mar. Com isso a orla costeira fica vulnerável à erosão e à destruição de bens construídos muito próximos à linha d'água”, expõe o geólogo.
Dieter explica que ainda é possível reparar os prejuízos e retomar a área das praias. Para isso, as cidades litorâneas devem buscar repor a areia “perdida”, recompondo a área usada pelos banhistas e protegendo as construções dos litorais. “A praia de Copacabana é um bom exemplo de que isso é possível. Quando o esgotamento das fontes de areia é um processo natural, a solução é recompor a praia artificialmente a partir de dragagens, preferencialmente na plataforma continental interna, com areias de características granulométricas idênticas às da praia ou preferencialmente um pouco mais grossas”. Na década de 70 foi realizado um aterramento hidráulico na orla de Copacabana, aumentando sua faixa de areia e permitindo um alargamento das pistas da Avenida Atlântica.
Segundo o especialista, a exploração de depósitos arenosos em terra também é uma solução possível, porém estas reservas muitas vezes não podem ser exploradas por razões ambientais ou já são usadas pela construção civil. Dessa maneira, o custo desta solução acaba se tornando muito elevado e só se justifica para zonas densamente urbanizadas.
“De modo geral é importante adotar faixas de não edificação, conforme previsto pelo Projeto Orla do Ministério do Meio Ambiente e definido em lei, para que haja disponibilidade de um espaço de ajustamento da linha de costa, no caso de mudanças climáticas e elevação do nível do mar”, conclui.