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Edição 266
4 de agosto de 2011
A tomografia computadorizada é um exame rápido, simples e totalmente indolor. Utiliza um aparelho de raios X que gira em torno do paciente, fazendo radiografias transversais de seu corpo. Estas radiografias são convertidas por um computador nos chamados cortes tomográficos. Ou seja, a tomografia computadorizada constrói imagens internas das estruturas do corpo e dos órgãos por meio de cortes transversais que, posteriormente, são montados por um computador a fim de formar um quadro completo do organismo do paciente. Dessa forma, por meio desse exame, o interior do corpo do paciente é retratado com precisão para uma futura análise por parte dos médicos. A exposição aos raios X dura poucos segundos.
Todavia, esses segundos, quando repetidos com determinada frequência, podem se tornar perigosos. Segundo cientistas da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, a tomografia computadorizada expõe o paciente a níveis de radiação semelhantes aos das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Estima-se que, se uma pessoa de 45 anos fizer uma tomografia, o risco de desenvolver câncer como resultado seria uma chance de 1,2 mil. Todavia, se a mesma pessoa passar pelo exame todos os anos, durante 30 anos, este risco sobe para uma chance a cada 50. Porém, os cientistas afirmam que para quem tem sintomas de alguma doença, a tomografia computadorizada realmente traz benefícios, mas pessoas saudáveis deveriam evitar tal exame.
Para discutir o assunto, dois especialistas foram ouvidos pela equipe do Olhar Vital que falaram sobre a relação entre a repetição frequente de exposição ao raio X, em tomografias computadorizadas, e o desenvolvimento de câncer nesses pacientes.
Alessandra Lopes
Técnica em tomografia e Raio-X do HUCFF
“Há uma série de fatores físicos e biológicos que envolvem este tipo de exame de tomografia computadorizada. Não é porque a pessoa fez uma tomografia que ela certamente estará com câncer. Mas, com o tempo, a doença pode se desenvolver se o paciente precisar se expor sucessivamente à quantidade de radiação demandada pelo exame.
A tomografia computadorizada demanda mais radiação do que outros tipos de exame. Se a pessoa passou por exames prévios, como o raio-X por exemplo, e seus prontuários foram devidamente analisados, ela deverá ser encaminhada para a tomografia, pois ela é altamente eficaz em detectar alguma doença, para que o paciente seja tratado o mais rapidamente possível. Porém, não se faz uma tomografia sem razão, para evitar o contato com a radiação.
Para cada paciente é utilizada uma quantidade de radiação e esta pode variar de acordo com idade, peso, gestantes e região do corpo onde será realizada a tomografia. Eu não poderia utilizar a mesma quantidade de radiação em uma pessoas de 12 anos, seja ela tivesse o dobro do peso recomendado para pessoas da sua idade, por exemplo. Nós analisamos detalhadamente cada caso e com base nas características do paciente, ele terá um tratamento específico. Nós sabemos dos danos à saúde provocados pela radiação, mas o tratamento da doença é muito mais importante. Todos os prontuários devem ser analisados e as dosagens estipuladas não podem de maneira nenhuma estar errado. E a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), também exige um controle sobre todos os equipamentos utilizados no exame.”
Carlos Nogueira
Médico do serviço de oncologia clínica do HUCFF
“A indicação de um ou outro exame depende de cada caso e de inúmeras variáveis. Cada exame terá sua indicação precisa. Pessoas saudáveis não precisam evitar o exame, se este for bem indicado. É um exame útil, que quando bem indicado auxilia muito na tomada de decisão e além do mais, a dose de radiação que gera risco é muita alta, assim a realização ocasional do exame não é muito pior do que outros meios diagnósticos.
Não há, pelo menos que eu saiba, uma recomendação de dose por paciente, mas é muito importante que as recomendações existentes para os profissionais da radiologia, sobre a quantidade de radiação a ser usada, sejam seguidas. Elas devem estar relacionadas às características do paciente em questão, para que este que já tem possivelmente um problema de saúde, corra o risco de desenvolver uma doença como o câncer. Não vejo necessidade que se faça esta recomendação para o paciente, porque às vezes a necessidade do exame supera o risco de um problema futuro em potencial.”