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Edição 267
18 de agosto de 2011
Números do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional do Câncer (Inca) sobre câncer de mama no Brasil para o biênio 2010/2011 revelam que, até o fim do ano, deverão ter sido assinados nos hospitais brasileiros em torno de 10 mil atestados de óbito de um contingente de cerca de 50 mil pacientes diagnosticadas com câncer de mama — ou seja, um quinto da população vítima da doença. Um novo medicamento desenvolvido para o combate à doença parte do novíssimo conceito de "terapia de alvo molecular".
Desenhado para atuar somente em determinado alvo ou gene, esse grupo de medicamentos atua especificamente contra o mecanismo de formação de vasos. Os tumores, de maneira geral, têm capacidade de produzir vasos sanguíneos maiores que os tecidos normais do corpo humano. Os antiangiogênicos, ao diminuírem a formação de vasos, reduzem o suprimento de sangue para o tumor.
"O medicamento é um novo antiangiogênico, diferente dos que existem, pois atua diretamente em um dos receptores celulares que transmitem para as células os estímulos para produção de vasos. Já existem outros medicamentos que atuam na angiogênese, mas este é o primeiro que atua diretamente no receptor na membrana celular. Como o suprimento sanguíneo é quem leva alimento para o tumor, os antiangiogênicos têm a função de ‘matar o tumor de fome’”, explica Eduardo Côrtes, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Câncer do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).
A capacidade de produzir vasos sanguíneos é que dá a característica e possibilidade de o tumor se espalhar pelo corpo através de metástases. Associado à quimioterapia convencional, o antiangiogênico potencializa a ação antitumoral dos tratamentos existentes.
A pesquisa é desenhada para mulheres com câncer de mama que foram operadas, fizeram o tratamento com quimioterapia logo depois da cirurgia e, por algum motivo, tiveram a primeira metástase. "A paciente pode ter recebido quimioterapia na época da cirurgia, mas não pode ter recebido nenhuma quimioterapia para a metástase. Pacientes em uso de hormonioterapia, como o tamoxifen ou outro tratamento hormonal, podem participar. O que não pode é ter sido tratada com quimioterapia para a metástase, para a chamada recaída do tumor",esclareceu Côrtes.
Vários países participam dessa pesquisa, incluindo os Estados Unidos, Canadá, Rússia, Alemanha e Brasil. Mais de 1.000 pacientes em todo o mundo já receberam ou estão recebendo tratamento com esses medicamentos. "Essa pesquisa no Brasil foi avaliada e autorizada pelos Comitês de Ética em Pesquisa da UFRJ, da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde e pela Anvisa", afirma o especialista.