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Edição 269
15 de setembro de 2011
Um tema de debates nos últimos meses tem sido o descarte de medicamentos. O assunto vem sendo discutido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pelo Ministério da Saúde e do Meio Ambiente, além do setor produtivo em si e da sociedade. A finalidade desses debates seria a de evitar que os medicamentos caseiros que acabam passando da validade terminem sendo despejados junto com o restante do lixo comum, o que acarretaria inúmeros problemas.
Um dos principais empecilhos da divulgação e implantação de um descarte de medicamentos de forma correta é o fato de que a população não tem maiores esclarecimentos sobre o assunto. A professora adjunta Helena Keiko, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, dá alguma dicas sobre o descarte de medicamentos para ajudar o dia a dia.
“O material hospitalar oferece um grande risco à saúde devido a sua característica biológica. O resíduo hospitalar inadequadamente descartado pode carregar organismos patogênicos como vírus, bactérias multi-resistentes a antibióticos, entre outros. A exposição de catadores de lixo a esse resíduo pode provocar a transmissão de doenças pelos agentes infecciosos e também podem causar ferimentos por objetos perfuro-cortantes”, explicou a professora.
O descarte inadequado de substâncias como medicamentos, material hospitalar e químicos pode comprometer a saúde do homem, dos animais e afetar o meio ambiente como um todo. Existem determinadas substâncias químicas que causam danos graves à saúde, sendo consideradas por vezes mortais, o que é o caso de elementos como o cianeto. Outras, apesar de não serem letais, são perigosas ao ponto de causar ferimentos e irritações apenas com a sua exposição. “Temos também substâncias inflamáveis igualmente perigosas e há sempre o risco de um desses ativos reagir com algum outro e ocasionar explosões e outros transtornos”, lembra Keiko.
Sobre os medicamentos, a professora destaca que “os medicamentos, antimicrobianos, hormônios, drogas quimioterápicas também apresentam riscos à saúde por conterem substâncias químicas e seus resíduos podem ficar acumulados no meio ambiente contaminando a água e o solo. Antimicrobianos contaminando a água o solo, por exemplo, podem alterar a flora local e selecionar microrganismos resistentes.”
Como descartar corretamente
A maior parte da população sabe que medicamentos não faz parte do lixo comum. A questão é: como se livrar dele? A maioria faz o descarte junto com o lixo comum, ou despejando em água corrente. Ambas as formas de descarte são perigosas e danosas. Quaisquer medicamentos vencidos, contaminados e/ou impróprios para o consumo devem ser devolvidos à indústria farmacêutica para o correto descarte, que é a incineração do produto. Esse material deve ser incinerado e em seguida enviado para aterros, o que não acarretaria riscos de prejudicar nem as pessoas, nem o meio ambiente.
No Brasil , a Norma Brasileira da ABNT- NBR 10004 da Associação Brasileira de Normas e Técnicas define, classifica e lista os resíduos, além da Resolução no 5 do Conselho Nacional do Meio Ambiente que classifica os resíduos e a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 306 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Essas resoluções surgem com o propósito de classificar os diferentes tipos de resíduos e orientar como caracterizar, segregar, acondicionar, tratar, armazenar, transportar e destinar adequadamente os resíduos gerados nas instituições de saúde.
Devido principalmente aos programas de qualidade a que muitas instituições são submetidas e à fiscalização de órgãos como a Anvisa e o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), no Brasil uma grande parte das instituições de saúde realiza adequadamente o descarte de seus resíduos. “Mas infelizmente, muitas instituições de saúde continuam desrespeitando a legislação vigente. Um grande problema está em relação à população: como descartar o resíduo biológico e químico gerado nas residências? E os medicamentos vencidos?”, questiona a professora.
Segundo ela, o procedimento ideal seria que as drogarias e farmácias recolhessem o produto e o encaminhassem às indústrias para a incineração. “Algumas drogarias já realizam esse serviço, mas a grande maioria ainda não. E o consumidor acaba descartando no lixo comum”, encerra a professora Keiko.