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Edição 265
30 de junho de 2011

Faces e Interfaces

Nicotina contra a obesidade

Luciano Abreu

Uma pesquisa publicada pela revista Science, na última semana, trouxe esperança no desenvolvimento de fármacos que ajudam no controle da obesidade e distúrbios metabólicos em fumantes. Cientistas das Faculdades de Medicina de Yale e Baylor identificaram os receptores de nicotina que influenciam na inibição do apetite.
       
Receptores de nicotina expressos nos neurônios do hipotálamo que controlam a motivação para comer foram observados no estudo. Em camundongos, eles foram capazes de determinar que um subtipo do receptor pode influenciar o quanto se come. Quando a nicotina se liga a esse receptor, neurônios pró-opiomelanocortina (POMC) são ativados, iniciando o processo de supressão de apetite.

O Olhar Vital ouviu dois especialistas para explicar a importância da descoberta e suas projeções para o avanço do tratamento do tabagismo.

Márcia Trotta

Doutoranda - Instituto de Estudos em Saúde Coletiva - Iesc/UFRJ


“Já é conhecido o fato de que a pessoa que para de fumar recupera, em média, entre dois e três quilos, ou seja, ela apresentará o peso que deveria ter, caso não fumasse. A perda de peso narrada no estudo está sendo relacionada à identificação de receptores de nicotina que influenciam a via de supressão do apetite, mas não podemos esquecer que a nicotina também acelera o metabolismo corporal, o que facilita a perda do peso.

No entanto, não podemos esquecer que o uso de drogas, aqui especificamente o fumo, envolve outros aspectos além do físico, como por exemplo, o emocional e o comportamental e de que, na prática, é muito comum depararmos com pessoas que apresentam um ganho de peso muito acima dos tais dois a três quilos, quando param de fumar.  É preciso ter cuidado com a visão reducionista quando se trata de dependência. Há muitas variáveis como, por exemplo, a pessoa que sistematicamente escolhe comprar cigarros no lugar de alimentos, quando está com poucos recursos financeiros.  Por outro lado, quando param de fumar, a sensação de ‘vazio’ faz com que levem alimentos à boca a toda momento.

A procura/escolha por alimentos que têm em sua composição gordura e açúcares são os prediletos, já que aumentam a sensação de ‘saciedade’. Vale ressaltar também que os estados emocionais são, em geral, enfrentados pelas pessoas fumantes com a ‘muleta’ do cigarro e que no período de cessação do tabagismo a válvula de escape pode ser através da ingestão de alimentos, o que está longe da questão da fome /necessidade de se manter o corpo físico em funcionamento.

Se a pessoa já apresentava um quadro de obesidade enquanto fumante, o caso é mais delicado ainda, havendo a necessidade de acompanhamento especializado para o quadro de compulsão.

O assunto apresenta muitas variáveis. Da descoberta sinalizada pela pesquisa mencionada à possibilidade de se limitar o ganho de peso em quem deixa de fumar ainda há um longo percurso, onde questões culturais, comportamentais e emocionais não devem ser descartadas.”

 

Newton G. de Castro

Professor de Neurofarmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas.
(Médico, PhD, Professor Associado, Chefe do Laboratório de Farmacologia Molecular, Diretor Adjunto de Pós-Graduação do ICB)

“Tanto o fumo quanto o excesso de peso são fatores de risco para doenças cardiovasculares e câncer, além de várias outras doenças que cada um promove independentemente. Os novos dados ajudam a explicar o ganho de peso que é comum em quem para de fumar.

Muitos fumantes dizem que não largam o hábito porque engordam e isso dificulta muito o tratamento do tabagismo. Dos dois males, o fumo é pior, mas o ideal seria parar de fumar sem ganhar peso.

De acordo com o estudo, na falta de nicotina, o sistema de controle do apetite no hipotálamo possivelmente fica menos ativo. Felizmente, os receptores alfa3beta4 do hipotálamo são diferentes dos receptores de nicotina responsáveis pela fissura do fumante.

Se tudo se confirmar em humanos, pode-se desenvolver novos tratamentos que reduzam a fissura sem levar ao ganho de peso. No campo do combate à obesidade, a novidade também vai estimular a busca de novos fármacos. Isso é especialmente importante agora, quando a maioria dos medicamentos antiobesidade disponíveis está sendo condenada, por problemas de segurança ou falta de eficácia.”

 

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