Renata Lima
Se procurarmos filósofos e pensadores até o século XX, encontraremos nomes como Isaac Newton, Albert Einstein, Thomas Edison, mas... e os nomes femininos? Sempre localizadas às margens da Ciência, a mulher, até a segunda metade do século XX, era ignorada no processo de produção científica. Por esta razão, a seção Por uma Boa Causa deste mês, fecha a série abordando as dificuldades encontradas pela mulher na ciência. Para relatar a experiência feminina na área, falamos com a pesquisadora Ana Martinez, professora associada do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/UFRJ).
A cada dia as mulheres conquistam mais espaço na sociedade e no campo de trabalho, como nas universidades, atividades acadêmicas e áreas de pesquisa científica. No Brasil, por exemplo, hoje elas representam por volta de 55% das bolsas concedidas à Iniciação Científica, e progressivamente ganham espaço na área de Ciência e Tecnologia (C&T), antes quase totalmente representada pelo sexo masculino.
“Na minha área de trabalho, as ciências biomédicas, não há discriminação, até porque nós, mulheres, ultrapassamos o número de homens. E quanto ao fomento de pesquisas, o financiamento e as bolsas são dadas unicamente pelo mérito. Não há seleção por sexos, e, sim, uma avaliação da qualidade e da relevância do trabalho do pesquisador”, revela a professora.
Apesar da diminuição das disparidades entre sexos, quando o assunto é o comando de altos cargos, a mulher ainda está atrás nesta corrida. Homens em cargo de diretoria são nitidamente majoritários. Isso interfere nas diretrizes e decisões que uma instituição toma. “Um exemplo desse fato recentemente é a eleição para Reitor da UFRJ. As mulheres, se ativas nesse processo eleitoral, estão alocadas nos cargos de vice-reitor, não como candidatas ao cargo máximo”, constata Ana.
Para Ana Martinez, essa situação não é diretamente uma questão de preconceito, mas um fato que corresponde a experiências passadas: “As mulheres, incluindo as pesquisadoras, por uma herança de seu passado, não assumem cargos de alta chefia. Este reflexo, hoje, ocorre não pelo preconceito ou pela falta de competência. Pelo contrário, temos muitas mulheres capacitadas para tomar decisões importantes. Mas acontece, provavelmente, por não se identificarem tanto com cargos administrativos.”
Porém, uma coisa não pode ser negada: a mulher continua sendo a representação do lar. “Nós não apresentamos desempenhos inferiores ao gênero masculino, exceto quando dividimos a dedicação ao trabalho com a dedicação ao lar. Chega uma fase, a da maternidade, em que o preconceito é velado”, diz a professora.
A sociedade ainda associa a figura feminina com as decisões da casa. Não há uma divisão igualitária de tarefas entre os gêneros. Por isso, nessa época da vida feminina, sua produtividade no trabalho cai, comprometendo a qualidade de suas pesquisas.
Para acabar com as barreiras entre os sexos, hoje ínfimas se comparadas ao século passado, é preciso que a mulher seja ativa no processo de transformação da sociedade. Para Ana Martinez, falta o sexo feminino sair da zona de conforto e lutar para conquistar essa fatia do mercado de trabalho: a chefia. “Essa é uma batalha exclusiva da mulher: ela que irá mudar essa situação”, termina a professora.