• Edição 255
  • 15 de abril de 2011

Faces e Interfaces

Ciência perto da fonte da juventude

André Ribeiro

Por mais que a ciência tenha avançado e a longevidade humana aumentado, ainda estamos longe de resultados significativos. Mas a cobiçada fonte do rejuvenescimento está cada vez mais próxima da realidade. Um dos passos que aproximam é o avanço em estudos com a telomerase, enzima responsável por reparar os danos resultantes da divisão celular, que é ativa somente na fase da infância.

Testes em roedores mostraram que com a ativação de telomerase houve melhoras na longevidade das células e aumento na reprodução delas.  Apesar de não existirem indícios de que há o mesmo efeito em seres humanos, somente a menção de pesquisas que abordam o assunto de rejuvenescimento já causa alvoroço na sociedade. Tratamentos estéticos já prometem aumentar a longevidade e reprodução de células epiteliais, mas sem nenhuma credibilidade científica.


Entrevistamos dois especialistas para explicarem melhor o que são, quais os objetivos e aonde podem levar essas pesquisas.

Carlos Montes Paixão

Coordenador do setor de Geriatria do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ)

“Existem de fato, pesquisas ligadas ao assunto, porém todas estão em estágio muito primitivo para serem aplicadas. Nas pesquisas relacionadas à telomerase, enzima que prolonga a vida das células e estimula sua reprodução, o principal desafio é controlar o quanto e onde a enzima vai agir. Se não controlada, a telomerase pode aumentar a chance de tumores, que são caracterizados por sua rápida multiplicação.

Quanto às linhas de pesquisa com células-tronco embrionárias, o problema está na falta de tecnologia para controlar seu desenvolvimento. Ainda não há garantias de que estas células sejam exclusivamente benéficas. Então se forem usadas células-tronco embrionárias em algum tratamento para retardar o envelhecimento nos dias atuais, há sérios riscos de que as células-tronco se tornem células malignas.

Também há pesquisas que visam ao processo contrário, ou seja, a inibição da reprodução de células, que seria usada para tratar principalmente o câncer. Essas pesquisas já são utilizadas para tratamento de câncer, já que é muito mais fácil inibir a ação da telomerase do que controlá-la.

Mas todas essas pesquisas, apesar de estarem em estágio inicial, podem ainda render bons frutos no futuro. O que é extremamente falacioso é a enxurrada de tratamentos estéticos que dizem retardar o envelhecimento. Os cremes e produtos, principalmente para a pele, dizem conter compostos que aumentariam a longevidade das células epiteliais e aumentariam sua reprodução. Esses cremes na verdade são apenas hidratantes, já que para uma boa saúde da pele epitelial deve-se evitar principalmente o sol e o fumo.

Existe um fator comum em todas as linhas de pesquisa. O grande desafio de todas elas é orientar a ação do agente que irá promover uma maior reprodução das células e/ou sua maior longevidade. Quando isso for descoberto eu penso que irá beneficiar todas as linhas de pesquisa da área.”


Stevens Rehen

Coordenador do Laboratório Nacional de Células-tronco Embrionárias (LaNCE), especialista em produção de células-tronco embrionárias e células-tronco de pluripotência induzida.

“Os estudos sobre telomerase sugerem que sua ativação retarda o envelhecimento, mas ainda não há nada que indique que tais efeitos, observados no laboratório, serão reproduzidos nos seres humanos. O trabalho com camundongos, do Professor Ronald de Pinho nos Estados Unidos, mostrou que a reativação da telomerase recupera a aparência jovial e longevidade desses animais, entretanto, não há indícios que o mesmo irá ocorrer em humanos.

O grande desafio para o sucesso da intervenção sobre a telomerase como agente antienvelhecimento está no controle fino de suas ações, já que sua ativação também pode gerar tumores. Deve-se identificar quando a enzima deve ser ativada, buscando-se um equilíbrio de suas funções no metabolismo das células.

O campo de pesquisa das células-tronco está em ebulição. Uma linha promissora diz respeito à utilização de células-tronco de pluripotência induzida na modelagem de doenças. Os fatores genéticos, as causas e consequências da patologia são levados em consideração.

É possível especular que o controle apurado das funções da telomerase poderá aumentar a expectativa de vida para além dos 100 anos. Enquanto isso não acontece, o segredo da longevidade está numa alimentação balanceada e na prática de exercícios físicos.”