“A dor testicular sempre deve ser valorizada, principalmente em adultos jovens, com vida sexual ativa”, alerta o urologista Luiz Carlos de Miranda, professor adjunto da Faculdade Medicina da UFRJ. As causas podem ser diversas: uretite, doenças sexualmente transmitidas (DST) ou torção. Contudo, se ignorada, e sua origem não for diagnosticada e tratada corretamente, qualquer uma das hipóteses pode levar à falência do órgão reprodutor masculino.
Normalmente, o início abrupto da dor, juntamente com o aumento de volume no testículo, faz pensar em uma torção de testículo. Entretanto, outras desconfianças devem ser levantadas, como a possibilidade de uma hérnia encarcerada ou um tumor de testículo. Se a dor for associada, então, à presença de sintomas urinários, por exemplo, o motivo pode ser um processo inflamatório ou infeccioso.
A presença de ardência para urinar também pode estar relacionada ao início de uma DST, comenta Luiz Carlos de Miranda, do Serviço de Urologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), e, se não for tratada, pode progredir e atingir o testículo.
Segundo o especialista, afastando a hipótese de uma DST ou uma uretrite, que pode evoluir para uma inflamação aguda do epidídimo (tecido acima do testículo), onde a dor, febre e vermelhidão local são muito frequentes, deve ser pensada a hipótese da torção.
O testículo é praticamente um órgão "dependurado" dentro do escroto. Ele está dentro do saco escrotal envolvido por diversas camadas e suspenso pelo canal deferente e pelas suas artérias e veias. Além disso, devido a líquidos internos que servem como lubrificantes, ele tem certa mobilidade em torno de seus eixos. A torção ocorre quando o testículo excede o movimento em torno do seu eixo e suas estruturas de sustentação ficam comprometidas. O fluxo sanguíneo testicular diminui.
As causas são variadas. “Sem a fixação, o testículo fica como se estivesse pendurado por um conjunto de cordões (os vasos sanguíneos) e, por alguma razão, o testículo pode rodar lateralmente”, aclara doutor Luiz Carlos. Alguns se referem à atividade física ou ato sexual antes do início da dor. Outros, durante o sono. Talvez, devido à posição das pernas em relação ao testículo.
“Geralmente a torção está relacionada a uma falha de fixação do testículo no interior da bolsa escrotal. É um problema embrionário”, esclarece o urologista.
A mobilidade do órgão é normal. Em crianças, por vezes, um ou ambos os testículos na bolsa escrotal somem durante algumas horas, e depois aparecem. No adulto, esta mobilidade é observada durante o processo da ejaculação. De acordo com o especialista, não há como evitar a torção. Entretanto, ele alerta para os casos de testículos que são muito retráteis, que se encolhem muito e somem no canal inguinal. “Esses devem ser examinados por um especialista”, ressalta.
A torção do cordão vascular provoca um quadro agudo de dor intensa, que não melhora com nada, pois se trata de um sofrimento vascular agudo, ou seja, uma isquemia, conta o médico. A evolução pode ser para a necrose aguda do testículo. O início e súbito não se relacionam com infecções da urina ou no ureter (DST) e o quanto antes for examinado e diagnosticado melhor, avisa Luiz Miranda. “O melhor exame é o Doppler. Ele constata a ausência de fluxo sanguíneo para o testículo e, assim, pode-se operar imediatamente.”
O tratamento é cirúrgico. Há que tentar desfazer a torção e fixar o testículo nas paredes internas, para que não aconteça novamente. Segundo doutor Luiz Miranda, aproveita-se a anestesia e fixar o outro lado também, porque a chance de torcer é a mesma, por se tratar de um defeito embrionário.
Em alguns casos, quando o paciente não procura recurso médico imediatamente ou quando o diagnóstico não é feito com rapidez, o testículo sofre alterações irreversíveis, obrigando sua extirpação, explica o doutor e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Alerta
A torção não é algo tão comum assim, diz Luiz Miranda, que também é membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia. “Acontece, com maior frequência, em adolescentes e adultos jovens, após ter sido completado o processo de desenvolvimento final dos testículos”, afirma ele.
O surgimento de dores nessa região pode não ser sinônimo de torção, mas qualquer sinal estranho deve ser levado a sério. “Caso a agonia não melhore com analgésicos ou se a intensidade for progressiva, procurar atendimento o quanto antes pode significar salvar ou não o testículo”, lembra o doutor, mas adverte: “a automedicação é um risco muito elevado. Tanto o processo inflamatório quanto a torção aguda do cordão espermático podem levar a necrose do órgão, de forma irreversível”.