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"Educação Alimentar e Nutricional na escola: limites e possibilidades" contou com a participação dos especialistas José Arimatéia Bezerra, Victoria Brant Ribeiro e Luciene Burlandy |
Na última quarta-feira (28/04), o Auditório da Biblioteca Central do Centro de Ciências da Saúde (CCS) foi sede de um evento que tinha como tema “Educação Alimentar e Nutricional na Escola: limites e possibilidades”, que faz parte do Colóquio Educação, Alimentação e Cultura, organizado pelo Nutes- UFRJ (Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde).
A conferência contou com a participação dos especialistas José Arimatéia, professor adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luciene Burlandy, professora adjunta da Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutora em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e Victoria Brant, professora associada da UFRJ e doutora em Educação.
Programa de Merenda Escolar
José Arimatéia apresentou, em sua palestra, as origens do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que remontam à década de 1930, com publicações de diversos autores, dentre eles Dante Costa, que reconhecem a necessidade de maior preocupação com a alimentação em escolas e entre os trabalhadores. Melhor alimentação significaria, de acordo com esses autores, maior produtividade e desenvolvimento para o país.
O PNAE, mais conhecido como Programa de Merenda Escolar, tornou-se medida pública apenas em 1955, mas suas premissas básicas – educação alimentar de forma objetiva, ajudando a suprir as necessidades nutricionais das crianças e, ao mesmo tempo, criando hábitos alimentares saudáveis – evoluíram ao longo de duas décadas com a literatura produzida por médicos nutrólogos, entre outros autores que se dedicaram às áreas de educação e nutrição.
O grande problema do PNAE, de acordo com o professor, é que “cada vez mais a merenda se afasta da educação alimentar, sendo assunto de cozinha. A criança não tem direito de escolha.” Esse ponto de vista também é defendido pela segunda palestrante, Luciene Burlandy.
“Educação Nutricional não é só evitar doenças”
De acordo com a professora, a educação alimentar deve ser construída em conjunto entre profissionais da educação e alunos, nunca imposta. “A educação nutricional era vista nas décadas de 70 e 80 como uma prática repressora e esse pensamento continua atual”, diz. Para que a prática dê resultado, Luciene recomenda que os valores sejam construídos coletivamente, envolvendo inclusive os pais dos alunos no processo de educação nutricional.
Ainda segundo Luciene, a alimentação, quando tratada dentro da escola, é dissociada do restante da vida da criança, sendo abordada somente como algo associado à saúde. “Educação Nutricional não é só evitar doenças”, diz a conferencista, ressaltando que outros valores devem ser levados em conta, abordando dimensões racionais, relacionais e emocionais.
Conhecimento comum X Conhecimento científico
A terceira e última palestrante, Victoria Brant, enfatizou a importância das merendeiras, pois elas têm contato direto com os alunos. Segundo Victoria, os conhecimentos de ambos ― merendeira e nutricionista ― devem ser somados. A prática da primeira é fundamental para o conhecimento científico do segundo e vice-versa. “A prática deve servir de base para a reflexão, que deve reformular a prática quando necessário”, afirma.
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Feira Agroecológica realizada no Restaurante Universitário (RU) da UFRJ |
Acontece na quinta-feira (29/04), a Feira Agroecológica realizada no Restaurante Universitário (RU) da UFRJ com grande variedade de produtos orgânicos, além de decoração, artesanato e literatura. Diversos agricultores do Rio de Janeiro tiveram a oportunidade de vender sua produção com a ajuda da universidade e do Restaurante Universitário.
De acordo com Audrey Cintra, nutricionista do RU, esse incentivo é importante para apresentar à população a qualidade e a saúde que os alimentos orgânicos proporcionam. “Os produtos orgânicos sempre são melhores. As toxinas e hormônios presentes nos alimentos cultivados com agrotóxicos são extremamente prejudiciais à saúde.”
Juliana Medeiros de Lis e Maria de Lurdes Gama, agricultoras de Magé – RJ, contaram sobre o processo de produção de seus doces em compotas e plantas decorativas. “Nós plantamos nossas próprias frutas de forma orgânica e fabricamos os doces,” disse dona Juliana.
Plantas como orquídea e camarão também estavam expostas na feira. “Nós colocamos casca de legumes e frutas na terra das plantas para fazer adubo”, acrescentou Maria de Lurdes.
Para alguns, os produtos orgânicos são caros demais em relação aos cultivados industrialmente, o que impede a compra. Sobre isso a nutricionista do RU afirma: “os produtos são um pouco mais caros, porque as pessoas não compram, se a procura for maior, os preços baixam e isso incentiva os agricultores familiares aumentarem a produção.”
O auxílio aos agricultores familiares incentiva o estudo sobre legislações, técnicas de cultivo, combate a pragas, entre outros. A agricultora Laurinda, de Guapimirim-RJ, contou que seus conhecimentos sobre ervas medicinais foram aprendidos com o pai, que era índio, mas que também pesquisa e estuda através da internet para aprimorá-los.
O RU tem o projeto de promover uma parceria com esses produtores a fim de abastecer parcialmente o restaurante com produtos orgânicos. “A ideia é trazer pelo menos um produto orgânico por semana, ou por mês, ao RU, pois eles ainda não têm produção para atender a grande demanda do restaurante”, disse a nutricionista.
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Colóquio "Educação, Alimentação e Cultura" promovido pelo Nutes e INJC contou com a participação de alunos e profissionais da área |
O Colóquio Educação, Alimentação e Cultura, produzido pelo Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (Nutes-UFRJ) e pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC-UFRJ), teve início na manhã da última terça-feira (27/04) com a explanação da professora Maria do Carmo Freitas, do Departamento de Ciência da Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que abriu oficialmente os trabalhos.
A nutricionista apresentou o tema: “Hábitos Alimentares nas camadas de baixa renda: 30 anos depois” e iniciou a palestra comentando a relação dos hábitos alimentares com valores culturais e com o cotidiano. Como exemplo, falou de lembranças ativadas com o ato de se alimentar e da variação da importância do momento da alimentação dependendo de cada região.
“Algumas culturas têm o hábito de comer rápido, porque acreditam ser o momento da alimentação, apenas uma necessidade fisiológica, outras incentivam o momento social, a apreciação da comida, como algo sagrado”, comentou a professora.
Posteriormente, relatou suas experiências durante a pesquisa sobre fome num bairro muito pobre de Salvador, o “Pela-porco”, e falou das lendas criadas pela falta de comida no local. “Os moradores falavam da fome como um espírito maligno, um monstro, que entra nas casas e suga as pessoas por dentro. Isso causava algumas superstições para evitar que a ‘bicha’ (outro nome para a fome) chegasse. Uma delas era não relatar em pesquisas de censo, por exemplo, que passavam fome, pois acreditavam que ao falarem, a fome voltaria para matá-los”, aponta Maria do Carmo.
Tudo isso relata a angústia, revolta e vergonha dos moradores diante da real fome, da fome crônica. Sobre isso, a pesquisadora encerrou sua fala dizendo que “a fome é um trauma social, uma cicatriz na sociedade”.
O Colóquio, que vai até o dia 30 de abril, contou na abertura com as professoras Elizabeth Accioly, Diretora do INJC; Miriam Struchiner, diretora do Nutes; Alexandre Brasil, coordenador do Nutes, e Luciana Castro, diretora do Instituto de Nutrição da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que ressaltou os benefícios de uma integração entre instituições de ensino, dando exemplo do auxílio recebido pelo Restaurante Universitário (RU) da UFRJ nos projetos para um RU também na Uerj.