Nesta última edição da série Por uma boa causa em comemoração aos 90 anos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que analisa o desenvolvimento das áreas das ciências da saúde a partir da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o Olhar Vital consultou a professora Kátia Regina Sanches, Diretora Adjunta de Extensão do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC/UFRJ). A história e missão do instituto estão diretamente relacionadas à criação do SUS, em 1988, tendo em vista a organização do sistema de saúde brasileiro orientada pela formação profissional e desenvolvimento de atividades de pesquisa e extensão.
Tais prerrogativas constam na Lei 8080/90, que inclui entre as áreas de atuação do SUS a formação de recursos humanos na área da saúde. Princípio que, desde então, orienta projetos pedagógicos para formar profissionais a partir da multidisciplinaridade em direção a ações de recuperação, prevenção e promoção da saúde.
Um ano antes de a lei entrar em vigor, diante dos debates sobre a organização do SUS, foi fundado em janeiro de 1989 o então Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC), órgão suplementar do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, que em 2006 viria a se tornar o atual IESC. Composto por uma equipe multidisciplinar de especialistas, o instituto se notabiliza pelas linhas e projetos de pesquisa vinculados à extensão e formação de recursos humanos para a rede pública de serviços de saúde na área da saúde coletiva.
Em breve análise sobre a evolução das ciências da saúde, a diretora Kátia Sanches avalia que “após a implantação do SUS, as ciências da saúde tiveram uma aplicabilidade maior nas áreas de planejamento e epidemiologia, contribuindo para estudos de diversas patologias e objetivando medidas de vigilância e monitoramento de populações, assim como na gestão das unidades de saúde”.
Para a professora, de um modo geral, os principais impactos da atuação do Sistema Único de Saúde estão na universalidade do acesso ao atendimento médico, a criação de cursos de formação lato sensu e stricto sensu e a integração entre a universidade e os serviços de saúde. Além, de mais recentemente, a “criação de cursos de graduação em saúde coletiva, onde a UFRJ foi uma das pioneiras”, complementa.
A graduação em saúde coletiva tem por objetivo capacitar profissionais com habilidades diversificadas para analisar as condições de saúde da população e formular estratégias de ação nas diversas áreas da saúde coletiva. Uma função negligenciada anteriormente a estruturação do SUS e a Lei 8080/90. Durante os quatro anos do curso são contempladas disciplinas relacionadas às ciências biológicas, mas também a áreas como educação, informação e comunicação.
No âmbito da formação de recursos humanos para o sistema público de saúde, Kátia afirma que “o IESC sempre contribuiu para a formação dos técnicos do SUS. Desde a criação do NESC, em especial, no campo da saúde coletiva e mais recentemente na área de saúde ambiental”.
Apesar de todo o avanço no âmbito da saúde coletiva, nas atividades de pesquisa, extensão e formação profissional, a diretora do IESC considera que “o principal mérito (do SUS) foi universalizar o atendimento, com características de integralidade”. Contudo, “é preciso ampliar a cobertura, com qualidade e resolutividade, articulando os diversos níveis de atendimento (primário, secundário e terciário)”, conclui Sanches.