• Edição 265
  • 30 de junho de 2011

Ciência e Vida

Controle da poluição beneficia o sistema de saúde

Sidney Coutinho

 

Estimular políticas públicas para o controle da poluição ambiental é uma tarefa difícil, principalmente por colocar em jogo interesses econômicos diversos. Uma das ferramentas para reverter o quadro é a informação clara de que os custos para a sociedade são bem maiores se as medidas são apenas paliativas. É o que aponta o estudo da pesquisadora Mariana Barcellos de Ávila sobre os efeitos da exposição aguda à fuligem do resíduo da queima de óleo (Rofa) no funcionamento pulmonar e na histologia de animais com inflamação alérgica crônica.

O trabalho é uma tese de mestrado do departamento de Fisiologia do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ), sob orientação do professor Walter Araújo Zin. “A parte experimental foi toda realizada nos laboratórios da UFRJ, mas o estudo tem colaboração do professor Paulo Saldiva, da USP, médico especialista em poluição atmosférias que forneceu o material particulado. Na composição do pó há uma série de componentes como metais, ácidos, hidrocarbonetos, organoclorados e tantos outros. A base que adotamos é muito inferior ao que já existe na atmosfera, oito vezes menor do que está em suspensão na cidade de São Paulo”, relata Mariana.

Segundo ela, que analisou 32 camundongos associando inflamação alérgica à exposição em ambiente contaminado por fumaça de fuligem, o quadro das pessoas durante o período de crise se agrava de forma exponencial em períodos com altos índices de poluição como o inverno. Nesse período do ano, a baixa umidade relativa do ar e as condições atmosféricas dificultam a dispersão das partículas. “Primeiro, simulamos nos animais uma inflamação alérgica crônica. Após 48 dias, eles recebiam uma solução salina via intranasal e 24 horas após a exposição fizemos os exames de mecânica pulmonar e histológicos”, explica.

A pesquisadora alerta sobre a necessidade de que no Rio de Janeiro sejam criadas unidades de monitoramento da qualidade do ar, inclusive no próprio departamento há estudos em andamento para mostrar a necessidade urgente de ações que apontem para o controle da fuligem suspensa na cidade. “Temos coletores de material particulado em alguns pontos do Rio e a proposta é demonstrar quais são os pontos críticos para promover o controle”, conta.

Para Mariana, é bem vasto o estudo relacionando poluição e doenças respiratórias, mas o diferencial que obtivemos foi verificar alguns dados interessantes de mecânica pulmonar que ainda não tinham sido vistos. “Por exemplo, se o indivíduo não estiver em crise alérgica talvez a poluição não traga efeitos tão graves, mas para quem está em crise é tudo muito pior, o que verificamos por hiper-reatividade brônquica, uma das características da doença”.

A pesquisadora Mariana Ávila acredita que a quantidade de recursos usados, por exemplo, para o controle de uma doença respiratória como a asma poderia ser bem menor com medidas ambientais. “Muito dinheiro se gasta com terapias e controle da asma, quando de repente seria possível reduzir esses gastos beneficiando o sistema de saúde apenas controlando os níveis de poluição”, concluiu.