• Edição 220
  • 17 de junho de 2010

Por uma boa causa

Incapacidade motora reflete na escrita

Michelly Rosa



Aqueles típicos exercícios de coordenação motora na Educação Infantil podem evitar sérios problemas no futuro. O Por Uma Boa Causa desta semana trata da Deficiência na Organização Temporo Espacial e suas consequências, não só escrita, como na vida escolar e social do indivíduo.

As capacidades motoras são aquelas que posicionam o indivíduo no tempo e espaço e o fazem reconhecer noções simples de localização como “direita - esquerda” ou “frente - trás”. Quando a criança não desenvolve essas capacidades pode demonstrar dificuldade na prática de esportes, na fala, no comportamento, mas principalmente na escrita.

Neste caso, os principais sintomas são a escrita fora da linha, falta de orientação na folha do caderno, omissão de letras, além de dificuldade na leitura. Estas características afetam diretamente necessidades primordiais para o processo de aprendizado, acrescentando outros problemas ao indivíduo como o não acompanhamento do rendimento da turma e dificuldade em aulas de educação física.

De acordo com Leila Nagib, professora de Transtornos de Fluência do curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina (FM/UFRJ), o ritmo é uma das etapas da estruturação temporal e é por meio dos movimentos registrados no corpo da criança que ela tem acesso à organização temporal. Ou seja, exercícios de coordenação motora, assim como exercícios físicos podem amenizar os sintomas do distúrbio.

Relação com gagueira

“Além da escrita, essa dificuldade na orientação temporal e no ritmo da criança pode interferir no desenvolvimento da prática percepto temporal ocasionando rupturas gagas durante a fala”, explica Leila.

Do mesmo modo, a pessoa com gagueira pode apresentar problemas com ritmos externos e internos, relacionados a esta deficiência na organização temporo-espacial.

Estes transtornos possivelmente trazem consigo outros problemas. O rebaixamento da auto estima causado pelas dificuldades na escrita, na fala e consequentemente na vida social pode trazer problemas psicológicos à criança. “Esses problemas são apenas consequências do distúrbio, mas nunca a causa”, esclarece a professora.

Fácil identificação do problema

Um distúrbio na organização temporo-espacial pode ser identificado através da observação dos comportamentos do indivíduo. “Crianças com estes distúrbios podem apresentar, no dia a dia, características como lentidão, além de não situarem bem seus membros em gesticulações, ou seja, possuem gestos imprecisos e esbarram mais em objetos e deixam coisas caírem da mão com frequência. Na escrita, não fazem distinção de letras que têm semelhança visual como b e d ou b e p ou da ordem de números pela sequência, como 14 ou 41”, explica a fonoaudióloga.

Tendo identificado o problema, o indivíduo portador da deficiência deve ser encaminhado ao fonoaudiólogo para o tratamento através da terapêutica psicomotora. “Para o processo terapêutico é necessário procurar um profissional que tenha aprendizado nos diversos meios de desenvolvimento do ser humano. O profissional fonoaudiólogo possui estas atribuições”, completa a professora.