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Recentemente, um   relatório   da Comissão de Ciência e Tecnologia do Parlamento Britânico criou   polêmica ao afirmar que remédios homeopáticos são tão eficazes   quanto placebo – substância sem efeito medicinal, mas que pode ser   receitada para criar efeito psicológico nos pacientes.  
     
O tratamento   homeopático   possui vários princípios e peculiaridades, tratando a doença ao induzir,     por meio de substâncias diluídas, efeitos semelhantes a ela. O   tratamento   homeopático não considera apenas a doença, mas sim o doente e o porquê   da instalação do quadro patológico. Características como temperamento,   estilo e fase de vida, sonhos e ansiedades são também valorizados   pelo médico, na busca pelo medicamento ideal na terapêutica homeopática. 
     
A comissão britânica   concluiu, no entanto, que as explicações científicas para a homeopatia   não são suficientemente convincentes para manter a especialidade dentro   do serviço público. Assim, recomendou que não seja mais oferecido   esse tratamento, que custa por ano o equivalente a R$ 500 mil ao governo     britânico. 
     
A discussão sobre a validade da homeopatia, que existe desde que o método foi criado, é abordada aqui pelos convidados do Olhar Vital, Carla Holandino, professora-adjunta da Faculdade de Farmácia da UFRJ, e Carlos Henrique Castelpoggi, chefe do Serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ).
Carla Holandino
Professora de Homeopatia da Faculdade de Farmácia da UFRJ
“Quando eu vi pela   primeira vez a reportagem no Jornal Nacional, em horário nobre,   me perguntei: ‘Com que objetivo o parlamento britânico faz um relato   como este?’ A Inglaterra é considerada um dos berços da homeopatia.   Tive oportunidade de conhecer pessoalmente o Royal London Homeopathic   Hospital em 2006, quando esse hospital foi sede de um importante   congresso   científico na área de homeopatia. O trabalho que é feito lá é fantástico     e um número muito significativo de pacientes vem sendo beneficiado   com a terapêutica homeopática de maneira absolutamente gratuita. 
            
O próprio parlamento   britânico reconhece que a homeopatia custa aos cofres públicos o   equivalente   a R$ 500 mil por ano, quantia irrisória dentro do orçamento britânico,   que destina R$ 300 bilhões à saúde, de    maneira geral. Ou seja, o tratamento homeopático é muito mais econômico   do que o alopático, não há como comparar. 
            
Além disso, os   benefícios   da terapêutica homepática vêm sendo cada vez mais divulgados em todo   o mundo. A doutora Charlote Mendes da Costa, da Associação Britânica   de Homeopatia, enviou ao parlamento o resultado de um estudo científico   feito com 6,5 mil pessoas, com diversas patologias, o qual concluiu   que mais de 60% dos pacientes tratados com a homeopatia ficaram curados.     Por que esse estudo especificamente não foi levado em consideração   pelo parlamento britânico? A resposta é simples: por motivos econômicos   e políticos. 
            
A indústria   farmacêutica   é a mais poderosa do mundo atualmente. Seríamos ingênuos em   pensar que a polêmica em torno da homeopatia diz respeito apenas à   carência dos mecanismos de ação dos medicamentos homeopáticos. Quantos   novos medicamentos são lançados no mercado por ano, sem que sua eficácia     clínica ou que seus mecanismos de ação sejam completamente conhecidos?   Desde que comprovados os benefícios de novas drogas para determinadas   doenças que não podem ser tratadas pelos medicamentos existentes,   elas passam a ser inseridas nos protocolos clínicos para que os   pacientes   possam ser beneficiados. Então, por que a homeopatia deve ser excluída   do Serviço Público de Saúde Britânico? Apenas por não ter comprovação   científica? 
            
A afirmação do deputado     Phil Willis de que ‘os remédios homeopáticos não passam de pílulas   de açúcar’ mostra um profundo desconhecimento    acerca dos inúmeros trabalhos científicos que vêm sendo publicados   mostrando os efeitos biológicos, bioquímicos, fisiológicos, curativos   e terapêuticos dos medicamentos homeopáticos em humanos, animais,   plantas, cultura de células, dentre outros. 
            
A agronomia e a   veterinária   brasileiras vêm mostrando muitos relatos científicos sobre os benefícios     da homeopatia no solo, nas plantas, no gado. As hortaliças e as frutas   orgânicas, o ‘gado verde’, estão em nosso mercado com força total,   sendo valorizados cada vez mais, porque esses alimentos são isentos   de agrotóxicos, hormônios, dentre outros aditivos, e, ao contrário,   são apenas tratados com homeopatia. Será que aqui também vamos atribuir   os benefícios da homeopatia ao efeito placebo? A resposta é não! 
            
A homeopatia é   uma terapêutica recomendada pela Organização Mundial de Saúde   e reconhecida  no Brasil como especialidade médica desde 1980,   farmacêutica   desde 1991, tendo ainda o reconhecimento dos conselhos de Medicina   Veterinária   e Odontologia. A aceitação e a procura pela homeopatia pela população   brasileira, pelos órgãos públicos e por profissionais da área de   saúde vêm crescendo enormemente nos últimos anos. A implementação   da Política de Práticas Integrativas e Complementares vem dando força   à homeopatia, que já vinha sendo timidamente disponibilizada nos   serviços   do Sistema Único de Saúde.  
            
A terapêutica   homeopática   completa 214 anos em 2010. O Brasil vem se destacando no cenário   internacional,   com a publicação de trabalhos científicos de altíssimo nível, já   há algum tempo. Desde 1970 experiências brasileiras são citadas em   relatórios da OMS. O governo está começando a ‘colher’ os frutos   de um investimento importante que cada vez mais será percebido pela   sociedade, que precisa ter acesso a práticas integrativas e   complementares   de saúde dentro do SUS, dentre as quais destacamos a homeopatia. 
            
Os dados que são divulgados no Brasil e em outros países do mundo vão na ‘contramão’ do que o parlamento inglês propõe. Ou seja, privar a população britânica de ter acesso a esta terapêutica é, no mínimo, uma irresponsabilidade e falta de conhecimento total dos estudos que vêm sendo feitos em todo o mundo acerca da eficácia e dos benefícios do tratamento homeopático.”
Carlos Henrique Castelpoggi
Chefe do Serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ)
“A homeopatia é   uma especialidade reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina e é   disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde.  Inclusive no Hospital   Universitário existe um ambulatório onde médicos se valem do seu   uso. Ela é um sistema de diluição de medicamentos, até diluições   consideráveis, garantindo que o princípio básico do medicamento   permaneça   ativo. Existem trabalhos científicos que demonstram que para alguns   tratamentos a homeopatia não é indicada, como uma infecção.  
    
Acredito que, para   alguns tipos de patologia, o princípio da homeopatia possa ser   eficiente.   Mas isso deve ser acompanhado de trabalhos científicos, em que   pacientes tomarão medicamentos homeopáticos e alopáticos para a   comparação   da evolução da doença ao tratamento clínico efetivo. Eu não conheço   trabalhos importantes que demonstrem isso, mas acredito que a homeopatia     tenha um espaço no tratamento médico atual.  
    
Existem textos que   comparam a homeopatia ao placebo, mas também há outros que revelam   a sua eficiência. O relatório da Comissão de Ciência e Tecnologia   do Parlamento Britânico propõe que medicamentos homeopáticos não   sejam distribuídos pelo serviço público. No Brasil, não existe   distribuição   desses medicamentos (pelo SUS), mas há o reconhecimento da terapia   homeopática. Vou reafirmar, acredito que para alguns tipos de patologia,     nos quais há grande comprometimento comportamental, ela seja   efetiva. Já para terapias em que existe necessidade de controle de   infecção, não.  
    
É muito difícil   industrializar   os medicamentos homeopáticos, porque as terapias são individualizadas,   o paciente recebe uma formulação de substâncias para fazer o   medicamento,   que é produzido pela farmácia homeopática. Dentro da homeopatia há   a divisão em dois grupos. Um que formula a droga pela análise do   paciente   e outro pela análise da doença. As formulações são feitas de diferentes   formas. Por exemplo, para tratar ansiedade, um homeopata vai indicar   o uso de três componentes numa pílula para o paciente tomar de duas   em duas horas. E outro pode indicar ao paciente o uso de dois   componentes,   duas vezes por dia. 
    
Essa grande gama de variáveis dificulta a realização de estudos comparativos entre homeopáticos e alopáticos. Por essa variedade de composições, é muito difícil a comparação. Por isso entendo que ainda não há trabalhos científicos que comprovem a total eficácia da homeopatia. Todavia, eles são necessários. Não tenho conhecimento de trabalhos que façam uma comparação droga a droga, analisando cada situação. Então, apesar de ser um tratamento antigo (conhecido desde o final do século XVIII), ainda não ocorreram estudos bem apurados."